4.5 estrelas fantasia

Resenha: The Way of Kings, Brandon Sanderson

13:52neo

Série The Stormlight Archive: The Way of Kings | Words of Radiance | ?
Brandon Sanderson
Tor Books
★★★★½

Roshar é um mundo de pedra e tempestade. Sinistras tempestades de incrível poder varrem através do terreno rochoso com tanta frequência que elas moldaram tanto a ecologia quanto a civilização. Animais se escondem em conchas, árvores recolhem seus galhos e grama se retrai no solo. Cidades são construídas apenas quando a topografia oferece abrigo.
Faz séculos desde que a queda das dez consagradas ordens conhecidas como os Knights Radiant, mas suas Shardblades e Shardplate permanecem; místicas espadas e armaduras que transformam pessoas comuns em guerreiros quase invencíveis. Homens trocam reinos por Shardblades. Guerras foram travadas por elas, e ganhadas por elas.
Uma dessas guerras assola uma paisagem em ruínas chamada de Shattered Plains. Lá, Kaladin, que trocou seu aprendizado médico por uma lança para proteger seu irmão mais novo, foi reduzido à escravidão. Em uma guerra que não faz sentido, onde dez exércitos lutam separadamente contra um único inimigo, ele luta para salvar seus homens e sondar os líderes que os consideram dispensáveis.
Brightlord Dalinar Kholin comanda um desses outros exércitos. Como seu irmão, o falecido rei, ele é fascinado por um antigo texto chamado The Way of Kings. Atormentado por visões de tempos antigos e pelos Knights Radiant, ele começou a duvidar de sua própria sanidade.
Do outro lado do oceano, uma mulher jovem e inexperiente chamada Shallan visa treinar com uma eminente estudiosa e notória herege, a sobrinha de Dalinar, Jasnah. Embora ela realmente ame aprender, os motivos de Shallan não são tão puros. Enquanto ela planeja um roubo ousado, sua pesquisa para Jasnah insinua segredos dos Knights Radiants e a verdadeira causa da guerra.
O resultado de mais de dez anos de planejamento, escrita e worldbuilding, The Way of Kings é a abertura da série The Stormlight Archive, uma ousada obra-prima ainda em construção.

Depois de passar quase oito meses enrolando, finalmente tomei coragem para ler The Way of Kings, o primeiro monstro (1007 páginas, né) da série de dez livros de Brandon Sanderson. E enrolei graças às experiências pouco satisfatórias que tive com as outras obras do autor; depois de ter morrido de tédio durante Mistborn e ter terminando Elantris sem achar a história grande coisa, foi com as expectativas bem baixas que me propus a ler The Way of Kings.

Não que eu ache Sanderson um escritor ruim. Na verdade, meu maior problema com suas histórias sempre foi questão de gosto mesmo; prezo muito mais personagens desenvolvidos à sistemas de magia intricados, e, falando em magia, geralmente não gosto quando ela é científica/cheia de regras e, bem, Sanderson é conhecido exatamente pelos seus sistemas de magia diferentes/bem construídos (que infelizmente raramente me agradam). Junte isso aos personagens rasos (na minha opinião) e puf, temos um escritor bom que simplesmente não escreve nada que eu goste. Pior pra mim, é claro.

Em The Way of Kings, porém, isso (felizmente) mudou.

Os personagens aqui são mais bem construídos e desenvolvidos do que qualquer outro que li do Sanderson até agora. Eles mudam durante a história, cometem erros e, graças aos céus, são mais do que apenas um monte de adjetivos amontoados em imitação a uma pessoa real. Apesar de uma ou outra coisa ainda ter me incomodado (tipo o Kaladin sendo extremamente bom com a lança simplesmente porque ele é extremamente bom com a lança e fim, e mais outras coisinhas que comentarei depois), a evolução do autor nesse quesito ficou bastante visível. A caracterização dos personagens também foi bem mais eficiente e menos desajeitada, o que os deixou mais reais e únicos.

O mundo também é bem mais interessante. Apesar de eu gostar de fantasias ambientadas em mundos pseudo-medievais, faz um bom tempo que ando de saco cheio de histórias assim, e The Way of Kings foge bastante desse cliché. Roshar é original. Atormentado pelas highstorms, tempestades terríveis que destroem tudo o que vem pela frente, esse mundo teve que se adaptar e o resultado disso foi animais peculiares e lugares diferentes do que estamos acostumados. Um desses lugares é as Shattered Plains, que, como o nome diz, é uma planície despedaçada e o local onde a maior parte da história se passa.

Ainda falando de worldbuilding, temos o sistema de hierarquia social, em que os lighteyes (pessoas com olhos claros) estão acima dos darkeyes (pessoas com olhos escuros) e também uma parte que lembrou o que geralmente penso ao ler algo do Sanderson, ou seja, reconheço que isso é interessante e bem feito, mas não é pra mim. Que parte é essa? Os papéis de gênero. Não, gente, não vai me descer que deixaram todo o conhecimento da humanidade nas mãos de uma parte da sociedade apenas e não deu merda (pra parte que não ficou com esse conhecimento, no caso). Divisão de trabalho/comportamento entre gêneros geralmente não me agrada (por isso reconheço que não é pra mim, apesar de ser sim uma mudança legal da mesmice de sempre), mas fazer com que homens não possam ler ou escrever? Burrice. E não faz sentido, sinto muito. Eu não consigo pensar em como uma sociedade viria a se organizar desse jeito em relação à leitura/escrita, já que aqui no mundo real saber ler e escrever sempre colocou as pessoas acima das outras, porque né, saber ler e escrever é ter conhecimento e conhecimento é poder.mp3

Mas enfim, prossigamos.

A parte que mais me agradou foi a história. Sou fã de mistério, de passados esquecidos e coisas do tipo, e The Way of Kings teve tudo isso. Os plot twists do final também foram ótimos, e me deixaram com vontade de ler o segundo volume logo, o que é um tanto raro pra mim (enrolo por meses e até anos antes de ler a continuação de alguma coisa).

O que me impediu de dar cinco estrelas para The Way of Kings, portanto, foram as poucas coisas que me incomodaram acerca dos personagens (e o fato de que eu não cheguei a gostar gostar de ninguém, nem mesmo do Dalinar, que ficou sendo meu preferido). Houve uma tentativa (desesperada, ao meu ver) de fazer da Shallan uma pessoa de língua afiada, mas tímida, e a coisa toda foi meio desastrosa. Os comentários dela não tinham graça nenhuma a maior parte do tempo, mas a insistência de todo mundo de ficar, nossa, que língua afiada! me fez revirar os olhos e me lembrou de como todo mundo (incluindo a narrativa) ficava dizendo que a Vin era arisca/independente/whatever em Mistborn. Bem chatinho.

Além disso tem a já citada invencibilidade do Kaladin, que também me fez revirar os olhos. Nada muito grave, mas incrivelmente cliché, né.

Enfim, The Way of Kings é um ótimo livro que felizmente não depende ou coloca tanto foco no sistema de magia (que é interessante aqui também, mas não foi tão explicado assim. Pudera né, serão 10 livros, todos provavelmente tão tijolo quanto esse primeiro) e que deixa a história brilhar por conta própria. 4.5 estrelas.

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4 comentários

  1. The Way of Kings e a sua sequência são de fato os melhores livros do Brandon que eu li, embora eu goste muito de Elantris e da trilogia Mistborn. Como sempre, suas resenhas são ótimas e uma delícia de ler. Abs!

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    1. De Elantris eu gostei, apesar de não ter achado nada demais, por assim dizer. Mas Mistborn me matou de tédio, nossa. Tenho a primeira trilogia aqui, mas nunca toquei no livro 2. The Way of Kings, por outro lado, quase se tornou um favorito meu.

      E obrigada!

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  2. Comecei a ler esse livro, parei no capítulo 5 (mais por procrastinação do que qualquer outra coisa, pois estava gostando), mas gostei do pouco que vi do sistema de magia (gosto do jeito dele de ir colocando as informações aos poucos, quase como se o leitor estivesse aprendendo junto) e da cultura do mundo: ele me deu a impressão de que vai tratar de vários lugares, o que é interessante pois traz diversidade. Mas essa história de ser proibido ler e escrever me incomodou um pouco também, me fez ficar pensando durante algum tempo sobre o que eu faria se um dia algo ou alguém me proibisse de fazer isso (sendo eu leitora e escritora). Seus apontamentos me deixaram curiosa para continuar a leitura e descobrir o que os personagens vão fazer a respeito.
    Também já li Elantris e Mistborn e gostei bastante; Elantris foi uma surpresa para mim pois me envolveu de um jeito que eu não esperava (talvez pela estrutura de alternância de ponto de vista). De Mistborn eu gostei mais, apesar de ter lido mais devagar. Mas gostei de ambos os sistemas de magia e me identifiquei com um dos personagens de Elantris, então acho que foi isso que me levou a gostar muito mais que você.
    Abraços!

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    1. Sim, esse foi um aspecto que gostei muito do livro: como tudo é informado ao leitor aos poucos, sem precisar interromper a narrativa ou sair dando grandes explicações. E isso de homens não poderem escrever ou ler me soou meio sem noção demais mesmo; como disse na resenha, não consigo imaginar como uma sociedade acabaria se desenvolvendo dessa forma. Saber ler e escrever é algo é muito importante para que apenas as mulheres possam fazer.

      Meu maior problema com Mistborn e Elantris foi justamente a falta de um personagem com quem eu me identificasse. Aí, apesar de serem sim histórias legais, acabaram me deixando insatisfeita. Mas do sistema de magia de Elantris eu gostei bastante e achei o final bem original.

      Abraços!

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