como comecei a escrever escrita

Escrita: como eu comecei a escrever

20:37neo


Ando meio desanimada para escrever, o que só confirma minha teoria de que isso só acontece quando tenho tempo livre. Estou de férias (na verdade tenho uma prova final quarta-feira, mas meio que já joguei a toalha porque minhas chances de passar são mínimas), ou seja, fico o dia inteiro em casa e só saio pra ir ao cinema/shopping ou para comer fora com a família de vez em nunca (sou uma pessoa estupidamente caseira). Resolvi então fazer essa série de posts contando como comecei a escrever e como se desenvolveu meu primeiro e principal projeto para ver se o ânimo e a vontade de escrever voltam.

Para contar como comecei a escrever é preciso contar como comecei a ler. De início foi do modo mais comum possível: fiz alfabetização normal e segui naquilo de ler frases, parágrafos e histórias curtíssimas para crianças. Não aprendi a ler antes do tempo ou qualquer coisa do tipo. Na verdade, desconfio que se não houvesse me mudado para o interior quando tinha 7 anos eu não seria o projeto de escritora que sou hoje.

Mais do que me mudar para o interior, eu me mudei para um sítio. Não era um sítio longe da cidade, mas ainda assim meu vizinho mais próximo estava a dezenas de metros de distância e brincar na rua meio que era uma ideia ridícula (até porque não tinha rua, e sim uma estrada asfaltada que depois de dois anos se tornou estrada de terra por causa das chuvas). Naquela época (não, gente, eu não sou velha, tenho 18 anos só), a internet era discada e minha mãe só deixava a gente (eu e meu irmão um ano mais novo) usar por tipo, 30 minutos por dia cada. Obviamente usávamos esses preciosos 30 minutos no Neopets, mas no resto do dia só tínhamos três coisas para fazer: ler, assistir TV (sim, tinha SKY) e montar a cavalo.

Aliás, acho que minha preferência por coisas mais medievais ou antigas começou aí. Não aprendi a montar a cavalo antes de aprender a andar de bicicleta, mas o número de horas que passei em cima de uma bicicleta nem se comparam com o tempo que já passei em um cavalo (um dos motivos de eu torcer o nariz para personagens que se assam em cima de uma sela quando estão usando calças, porque isso não acontece, gente. Sério). Infelizmente não podíamos montar a cavalo o tempo todo, então só restava ler e assistir TV. É aqui que você consegue perceber como pessoas são naturalmente diferentes: eu acabei me afundando em livros, gibis e mangás e meu irmão até hoje é um fanático por filmes, séries e animes. Caminhos diferentes, mas que envolvem a mesma coisa: ter contato com histórias.

Meu avô foi a pessoa que mais me influenciou nesse quesito. Ele tecnicamente não morava com a gente, mas meio que ficava indo e vindo, passando algumas semanas no interior e outras na capital. E quando ele estava com a gente, eu e meu irmão (a gente dividia um quarto antigamente) íamos para o quarto dele, juntávamos as camas (eu sempre ficava no meio ferrando minhas costas) e dormíamos lá. Antes de dormir, meu avô contava histórias que ele inventava pra gente. Eram principalmente de aventura, e envolviam animais falantes, príncipes e princesas e a coisa toda (talvez minha preferência pelo medieval/antigo tenha continuado aqui). Uma bela noite, ele (provavelmente cansado e sem muitas ideias depois de tantas histórias inventadas) propôs que cada dia um de nós contássemos uma história para os outros. Nem preciso dizer que foi isso que desencadeou tudo, certo?

A partir daí, comecei a ler muito mais, pegando livros na biblioteca toda semana para contar as histórias deles para meu avô e meu irmão. Eventualmente comecei a alterar as partes que eu considerava sem graça dessas histórias, e quando dei por mim estava fazendo "livrinhos" com papel ofício e prometendo ao meu pai/meu avô que quando eles voltassem de viagem eu teria terminado a história da vez (essas geralmente eram sobre animais, no maior estilo Rei Leão, um dos meus filmes preferidos na época) (hm, um dos meus filmes preferidos até hoje, na verdade) (e não, eu nunca terminava as histórias. A maldição da reescrita me acompanha desde sempre). 

Muitos escritores de fantasia sempre falam de como os jogos de RPG de mesa influenciaram na sua escrita. Eu nunca joguei RPG de mesa, mas confesso que gastei uma boa parte da minha vida baixando jogos de MMORPG no saco de latas que a gente gostava de chamar de computador. A maior influência aqui foi os amigos do meu irmão, que estavam sempre (e quando eu digo sempre é sempre mesmo) lá em casa porque, bem, sítio. As gurias que eram minhas amigas não eram lá muito fãs de sítio, tirando umas três que conheci mais tarde. Resultado: passei a maior parte da minha infância jogando MMORPG com um bando de garotos e montando a cavalo por aí com esse mesmo bando de garotos (e minha mãe ainda pergunta porque não sou tão feminina assim hoje em dia). E claro que todos os MMORPGs eram em mundos semi-medievais, com elfos, anões, dragões e a coisa toda. Minha paixão por elfos já estava mais do que enraizada a essa altura. 

Foi nessa época que eu descobri que garotos em jogos online geralmente são uns babacas, mas nunca deixei de usar char feminino por pura teimosia/orgulho. E foi nessa época que também notei que alguns jogos, como Mu, não tinham personagens femininas o suficiente (Mu tinha uma elfa para três chars masculinos e, nossa, os chars masculinos eram bem mais legais do que a elfa) (aliás, um dos motivos de eu sempre ter gostado de Grand Chase: as três primeiras personagens do jogo eram meninas). É claro que na maior parte dos MMORPGs você montava seu próprio personagem, mas Mu foi um dos jogos que eu joguei mais tempo (o saco de latas só pegava ele) e essa falta de variedade para personagens femininas sempre me deixou com uma sensação pra lá de desconfortável, sensação que ficava ainda pior quando eu parava para ver as roupas que a elfa usava (eu tinha menos de 11 anos na época, então né, era uma personagem completamente sexualizada representando uma pirralha de 10 anos para um monte de pervertidos) (sim, são pervertidos mesmo).

(Mas lembro até hoje de como eu e meu irmão lutamos para baixar Perfect World no saco de latas, mas o jogo sempre travava e a gente tinha que reinstalar. Ironicamente, quando conseguimos um novo saco de latas, esse um pouco melhor que o antigo, Perfect World já estava completamente abandonado e cheio de bugs. Não, nós nunca superamos essa frustração).

Quando eu tinha uns 9 ou 10 anos finalmente li Harry Potter. E ainda li na ordem errada: tinha assistido os quatro primeiros filmes e meu irmão tinha forçado meus pais a comprarem o sexto livro da série, então eu li esse sexto sem ter a mínima ideia do que acontecia no quinto (não sacava necas de profecia e Umbridge e etc). Mesmo assim adorei o livro, comprei o resto da coleção e pronto, potterhead de carteirinha. HP foi bem importante pra mim porque foi quando comecei a ler livros mais grossos e um tanto mais complexos, o que me levou, um/dois anos depois, a pegar O Senhor dos Anéis emprestado para ler. Nesse um/dois anos, as únicas coisas que escrevi foram histórias que hoje em dia seriam consideradas fanfics de HP, embora eu não fizesse ideia de que tal coisa existia na época, mas que estavam mais para uma cópia de HP em um universo alternativo um tanto diferente. Mas né, pelo menos eu estava escrevendo.

O Senhor dos Anéis mudou tudo. Foi ao lê-lo que eu percebi o tipo de história certa pra mim: a fantasia que eu já conhecia de jogos de MMORPG e dos filmes medievais que meu pai vivia comprando após perceber que não me converteria à ficção científica de Jornada nas Estrelas. Eu já simpatizava com elfos nesses jogos, mas foi O Senhor dos Anéis que me fez adorar essa raça e procurar todo santo livro com ela pra ler. Não havia muitos na época (eu só me lembro do próprio O Senhor dos Anéis, de Eragon, de Nárnia  - que nem elfos tinha - e de As Crônicas do Mundo Emerso), então eu meio que só relia O Senhor dos Anéis mesmo. Devo ter lido cada livro da trilogia pelo menos umas seis vezes nesses nove anos.

Mas O Senhor dos Anéis e os jogos de MMORPG que eu tanto gostava tinham algo em comum: quase nenhuma personagem feminina. Os filmes que meu pai comprava pra mim também eram assim. Sim, Nárnia tinha meninas, mas Nárnia era um tanto infantil, e eu queria personagens femininas tipo o Aragorn. Ou o Legolas. Ou o Sam e o Faramir. O Senhor dos Anéis tinha Galadriel e Éowyn, claro, mas elas não eram as principais. Não faziam parte da sociedade do anel, não estavam presentes o tempo todo ou desde o início. Uns dois anos mais tarde eu viria a conhecer Nihal, a protagonista de As Crônicas do Mundo Emerso, mas quando eu tinha 11 anos uma garota como protagonista de um livro ou filme de fantasia me fazia muita falta (Mulan na época era - bem, é - um dos melhores filmes do mundo pra mim, por motivos óbvios) e justamente por me incomodar com essa falta que decidi escrever mais. Não as pseudo-fanfics de HP, com um personagem também masculino (HP sim tinha garotas, sabe) como principal, mas uma história de fantasia que se passasse em um mundo tão fantástico quanto o de O Senhor dos Anéis. Foi assim que, com 11 anos, comecei meu primeiro projeto "sério": As Crônicas de Erne, uma trilogia que passaria por diversas mudanças e reformas até se tornar o ciclo A Canção da Fúria, cujo primeiro livro, O Olho da Serpente, estou escrevendo até hoje.

Mas isso já é assunto para outro post. Obrigada a quem leu e sintam-se livres para comentar sobre como começaram a escrever (se vocês escrevem, é claro). Amanhã provavelmente sai o próximo. Adiós.

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