Reinos Eternos: Império de Diamante | ???
J.M. Beraldo
Draco
★★★½
Um Imperador reina absoluto há séculos, mas toda dinastia chega ao seu fim.
Conheça o Império de Diamante: um reino eterno que conquistou e suprimiu várias culturas de Myambe, o continente original da Humanidade. Protegido por um exército com poderes incríveis, o Imperador governa com sabedoria e há quem diga que possa conceder talentos sobrenaturais a quem desejar.Mas agora sua decadência parece inevitável. Vinte anos após a última conquista, ninguém sabe do Imperador. O governo lentamente abandona as províncias mais distantes à mercê de uma seca avassaladora. O povo implora por socorro, mas não há ajuda.Em meio à crise, quatro indivíduos com objetivos diferentes acabam envolvidos na trama que pode revelar os segredos deste homem tão poderoso. Neste mundo fantástico baseado nas culturas africanas, o autor J. M. Beraldo explora a construção da História e da crença religiosa através da trajetória desse quarteto. Forçados a depender uns dos outros para alcançar seus propósitos, qual será o papel desse inusitado grupo na história do Império de Diamante?
Império de Diamante é um livro que se destaca desde o início por se situar em um mundo de fantasia bem diferente do que estamos acostumados. O continente onde a história se passa, Myambe, é baseado na África e não, graças a todos os deuses, na Europa medieval. Sair da mesmice foi um alívio, e eu gostei bastante das diferentes religiões e lugares apresentados no livro.
A história também é muito original e gira em torno do misterioso Imperador de Diamante, o chamado deus-vivo que governa boa parte do continente e que começou suas campanhas de conquista há mais de dois mil anos atrás, sendo, portanto, imortal. Porém, faz vinte anos que ninguém o vê, e seus sacerdotes dizem apenas que ele está meditando. Mas estaria o Imperador de Diamante meditando mesmo ou sua imortalidade teria enfim chegado ao final? Se ele não está morrendo, então por que Myambe, sendo supostamente ligada a ele, está definhando? Boa parte do livro é voltada para essas perguntas, e então para suas respostas.
Os personagens principais são Rais Kasim, um mercenário que no primeiro capítulo do livro fere o Imperador de modo (supostamente) mortal, Adisa, um jovem sacerdote do Imperador que possui o dom de entender qualquer língua falada ou escrita, Mukhtar Marid, um dos guerreiros seguidores da religião da Estrela da Manhã, e Zaim Adoud, o governador da distante província de Abechét, negligenciada (assim como outras) desde o desaparecimento do Imperador. Através desses quatro personagens é que os mistérios de Myambe e do Imperador são nos apresentados.
Império de Diamente mexe muito com religião. No Império, por exemplo, nenhuma outra religião além da do Imperador aka o deus-vivo é permitida, e aqueles que desafiam essa proibição - assim chamados de hereges - são severamente punidos. Mas, é claro, nada disso impede que as dezenas de religiões de Myambe continuem a ser praticadas na surdina, longe dos olhos dos primogênitos do imperador (guerreiros com habilidades sobrenaturais) ou de seus sacerdotes.
Outro assunto que me agradou bastante foi o abordado através do personagem Adisa, um jovem que cresceu dentro da capital, Jimfara, e que acredita firmemente que tudo que lhe é dito sobre o Imperador e sobre o Império é verdade. Para ele, todos os cidadãos do Império têm o que comer e onde morar (já que o Imperador cuida de todos que "aceitem" ficar sob sua proteção) e os outros povos, os ainda não conquistados, são apenas teimosos que não entendem a grandiosidade e bondade do Imperador. As coisas são bem diferentes, é claro. Uma seca assola Myambe desde o desaparecimento do Imperador, e somente as pessoas mais ricas e a capital possuem comida, água e um bom lugar para viver. Quando Adisa é forçado a deixar Jimfara, ele passa a compreender que o mundo pintado para ele pelos sacerdotes é muito diferente do mundo real.
A escrita de Império de Diamente é boa, bem melhor do que a da maioria dos livros nacionais que vejo por aí, mas tem suas falhas. Mais tell do que eu gostaria, o que, apesar de não chegar a incomodar de verdade, é algo que tira um pouco da beleza da história e da escrita. Senti falta também de um pouco mais de "sutilidade", principalmente nos capítulos de Adisa. A descoberta do mundo verdadeiro e das mentiras dos sacerdotes aconteceu muito na cara, por assim dizer, e de modo bem óbvio. Ou seja, muito dessas descobertas é jogado de modo muito direto na cara do leitor, o que meio que o impede de sentir a surpresa, a decepção e o horror que elas causam junto com o personagem.
Os personagens com POV são bons, mas o único que chegou a me convencer de verdade foi Zaim Adoud, pra mim o personagem mais inteligente do livro inteiro. Os secundários, porém, não recebem muita atenção e ficam meio de lado mesmo.
Ah, e Myambe é baseada na África, certo? Então, todo mundo é negro ou mulato/moreno. Os companheiros mercenários de Rais Kasim, porém, são estrangeiros e portanto brancos, mas somente a mulher causa estranhamento nos personagens que não estão acostumados a pessoas brancas ou que nunca as tenham visto. Adisa mesmo age ok com os dois caras brancos, mas dá um piti por causa da mulher. Ainda tentando entender o porquê (talvez por ela ser loira???? Who knows), mas continuemos.
O final foi bem satisfatório, mas confesso que senti falta de mais informações sobre o Imperador, tanto sobre sua personalidade quanto sobre sua história. Gostei bastante do último capítulo de Zaim Adoud e 404 Adisa not found para vermos como ele lidaria com as descobertas que fez após o clímax do livro. No geral, Império de Diamante é uma história interessante e eu provavelmente lerei os próximos volumes. 3.5 estrelas.
(OBS: Três mulheres de semi-importância no livro inteiro, duas das quais não ganham nome e uma sendo uma entidade maléfica muito nua e muito sexy, é claro. ZzzZzzZzz).
4 comentários
Muito obrigado pela resenha, Chimeriane. Se tem uma coisa que todo autor quer (depois de ser lido) é ouvir/ler a opinião de quem gosta e entende do assunto.
ResponderExcluirMeu editor me alertou sobre o risco em ter um livro sem protagonistas mulheres. Entendo e foi um erro que assumi. É possível, sim, que o fato de eu ter escrito os 4 protagonistas como homens ser um efeito inconsciente da sociedade em que vivemos. Escrevi esses livro 5 anos atrás e muita coisa mudou na minha cabeça neste tempo.
Se isso ajuda a me redimir por esse erro, o segundo livro, que já está sendo editado, tem não só uma protagonista mulher, mas ela é a peça chave de toda a trama.
Pessoalmente acho importante que gêneros, culturas, crenças e identidades de gênero diferentes sejam sempre tratados em obras de ficção e por isso mesmo compartilho do https://manifestoirradiativo.wordpress.com/.
Mais uma vez obrigado pelo feedback. É esse tipo de coisa que me faz aprender a melhorar.
- JMBeraldo
Confesso que se eu mesma não fosse mulher provavelmente acabaria enchendo minhas histórias de homens e só mudaria depois de amadurecer um pouco, então entendo que boa parte dos escritores acaba fazendo isso meio que de forma inconsciente. Em fantasia então, nem se fala. É algo que acontece com muita frequência, mas que está mudando aos poucos, felizmente. Tenho inclusive um post aqui pronto sobre o Manifesto Irradiativo, que pretendo publicar em breve.
ExcluirE de nada! Espero ansiosamente pelo volume dois de Reinos Eternos =)
Acabei de ler uma resenha em outro blog e adorei a premissa. Adorei o autor citar o Charles R. Saunders no site dele e vou ler Imaro primeiro (pode ser uma boa dica para você), porque não consegui efetivar a compra do Império de Diamante na livraria virtual. Enfim, quero muito ler o livro e a duas resenhas só me deixaram com mais vontade. Abs!
ResponderExcluirA história é bem original mesmo, principalmente se comparada com outras publicadas aqui. E vou pesquisar sobre esse outro livro, obrigada pela recomendação!
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