personagens femininas
Especial do dia internacional da mulher - minhas personagens femininas preferidas!
14:53neoarte por david-willicome |
Hoje, dia 8 de março, é o dia internacional da mulher e para fugir de pessoas (hm, homens) reclamando sobre a falta de um dia internacional da homem (zZZzzZZz) no Twitter/Facebook resolvi vir aqui falar um pouquinho das minhas personagens femininas preferidas do mundo dos livros. Escolhi algumas apenas pra não deixar o post grande demais.
- Sansa Stark (As Crônicas de Gelo e Fogo, George Martin)
arte por nickster098 |
Eu, assim como 99,9% dos leitores de ASOIAF, comecei a história odiando a Sansa. No final do livro um, então, nem se fala. Eu a achava estúpida, mimada e insuportável, e caía de amores por sua irmã mais nova, Arya, com quem eu me identificava bem mais. Quatro livros depois, no entanto, a situação mudou drasticamente; hoje não gosto mais da Arya e Sansa é minha personagem favorita da série inteira.
A história de Sansa é uma história de crescimento. No primeiro livro ela é inocente, acredita nas canções sobre cavaleiros, damas, honra e lealdade que lhe contaram durante toda sua vida e quer fazer parte de uma ao se tornar a rainha de Joffrey. Ao contrário de Arya, ela não quer fazer o que os garotos fazem e é feliz com as "coisas de mulher." E, é claro, é daí que boa parte do hate que ela recebe vem; Sansa é uma garota feminina que quer ser feminina e não vê problema nenhum nisso. O problema só começa mesmo quando ela percebe que as histórias e canções que moldaram sua vida são uma mentira.
Sansa não sabe lutar e não foi treinada para os jogos da corte. Ela cresceu em uma bolha, protegida do mundo lá fora, sempre tendo quem a apoiasse e guiasse. Após o livro um, no entanto, isso muda, e ela é forçada a crescer para lidar com uma realidade bem diferente da que ela estava acostumada. Sem ter ideia do que fazer para se manter viva, ela vai aprendendo aos poucos, e - o que na minha opinião é ótimo - sem deixar sua feminilidade e seus sonhos de lado. Ou seja, a força de Sansa não está em armas, mas sim na sua inteligência, no seu instinto de sobrevivência e principalmente na sua capacidade de se adaptar.
Eu tenho grandes expectativas para o futuro de Sansa. Martin tem uma personagem incrível nas mãos, e eu mal posso esperar para ver como ele a desenvolverá nos próximos livros.
"My skin has turned to porcelain, to ivory, to steel."
- Éowyn (O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien)
arte por nickroblesart |
Éowyn é basicamente a prova do quanto a fantasia atual falha com suas mulheres.
Toda sua história em O Senhor dos Anéis é pra lá de feminista, para começar. Éowyn é uma personagem infeliz por estar presa ao que a sociedade dizia que ela deveria e poderia fazer, e em As Duas Torres e O Retorno do Rei nós a vemos desafiar essas normas e destruir o maior dos espectros do Anel no processo. Além disso, a Éowyn dos livros joga na cara de Aragorn o quão sexista ele está sendo em certo momento, coisa que a dos filmes não faz:
"A time may soon come", said he [Aragorn], "when none will return. There will be need of valour without renown, for none shall remember the deeds that are done in the last defense of your homes. Yet the deeds will not be less valiant because they are unpraised."
And she answered "All your words are but to say: you are a woman, and your part is in the house. But when the men have died in battle and honour, you have leave to be burned in the house, for the men will need it no more. But I am of the House of Eorl and not a serving woman. I can ride and wield blade, and I do not fear neither pain or death."
Vale lembrar que O Senhor dos Anéis foi publicado em 1954-1955, escrito durante a segunda guerra mundial por um veterano da primeira vindo de uma família católica bem tradicional e ainda assim consegue tratar do sexismo sofrido por mulheres em cenários pseudo-medievais de modo muito melhor do que muitos livros publicados atualmente. E ela não é a única mulher da Terra-média a ter voz e personalidade: temos Haleth, Galadriel, Idril Celebrindal, Melian, Morwen, Lúthien, Yavanna, Varda, etc, mas Éowyn foi a única a ter um arco de desenvolvimento só seu divulgado para o mundo inteiro através dos filmes, e por isso acabou se tornando referência quanto o assunto é as mulheres da Terra-média. E, é claro, é por isso também que ela se tornou a prova da falha da fantasia atual, que em 90% do tempo não consegue apresentar uma mulher tendo sua própria história.
Éowyn é interessante também porque no fim de O Senhor dos Anéis ela desiste de ser uma guerreira e passa a ser uma curandeira. Seu desejo de ir para a guerra com os homens pode ser interpretado então mais como um desejo de provar que sim, ela é tão forte quanto eles, ela pode fazer o que eles fazem e alcançar os mesmo objetivos. Depois que a guerra passa, no entanto, Éowyn percebe que ela não precisa empunhar uma espada para provar que é a dona da sua própria vida e que sim, ela pode sim ser forte longe da "área dos homens."
Then Merry heard of all sounds in that hour the strangest. It seemed that Dernhelm laughed, and the clear voice was like the ring of steel.
“But no living man am I! You look upon a woman. Éowyn I am, Éomund’s daughter. You stand between me and my lord and kin. Begone, if you be not deathless! For living or dark undead, I will smite you, if you touch him.”
- Luna Lovegood (Harry Potter, J.K. Rowling)
arte por alicia7403 |
Luna Lovegood é incrível, e o motivo é simples: ela é estranha.
Em um mundo onde uma mulher só é chamada de estranha ou louca a) ao ser colocada em um pedestal por um homem - geralmente apaixonado por ela - como um ser incompreensível, mas belo e fascinante ou b) ao expressar qualquer tipo de emoção (principalmente raiva ou tristeza) em uma intensidade considerada pela sociedade como absurda e exagerada, Luna ser estranha apenas por ser estranha é uma benção. Principalmente porque não há homem algum a demonizando ou a idolatrando por sua bizarrice.
Estamos acostumados a ver homens sendo estranhos; homens estranhos e gênios então, nem se fala. Mas mulheres estranhas geralmente acabam apenas desumanizadas por causa de seu lado bizarro, e isso nas raras vezes em que chegamos a ver uma mulher que não cai nos extremos certinha-inocente e agressiva-sarcástica. Luna, sendo bizarra e tudo mais, recebe várias provocações de seus colegas, mas seus amigos - Harry principalmente - a aceitam do jeito que ela é, e isso é extremamente reconfortante.
“I don't think you should be an Auror, Harry," said Luna unexpectedly. Everybody looked at her. "The Aurors are part of the Rotfang Conspiracy, I thought everyone knew that. They're working to bring down the Ministry of Magic from within using a mixture of dark magic and gum disease.”
- Auri (A Crônica do Matador do Rei, Patrick Rothfuss)
Auri, assim como Luna, é estranha, então tudo que falei ali em cima também serve aqui. A única diferença é que Auri é ainda mais estranha do que Luna, fazendo ainda menos sentido para os outros personagens e vivendo de um modo completamente diferente do deles, mas ninguém, graças aos deuses, a idolatra por isso. Auri é um mistério, mas é extremamente humana.
What did you bring me?” I countered.
She grinned. “I have an apple that thinks its a pear. And a bun that thinks it’s a cat. And a lettuce that thinks its a lettuce.”
“It’s a clever lettuce then.”
“Hardly,” she said with a delicate snort. “Why would anything clever think it’s a lettuce?”
“Even if it is a lettuce?” I asked.
“Especially then,” she said. “Bad enough to be a lettuce. How awful to think you are a lettuce too.”
- Nasuada (Eragon, Christopher Paolini)
arte por sary |
Certo, eu falo mal de Eragon direto, mas uma verdade tem que ser dita: Eragon tem mais mulheres importantes do que a maior parte dos livros de fantasia mais bem escritos e planejados que existem por aí podem sonhar em ter. Pensando rapidinho consigo me lembrar de seis: Arya (uma princesa guerreira), Islanzadí (rainha dos elfos e também guerreira), Angela (outra mulher estranha), Elva, Katrina e a minha preferida, Nasuada. Nasuada é também a única mulher de cor dessa lista.
Nasuada e seu pai, Ajihad, são as únicas pessoas negras de que se tem notícia em Alagaesia, e ambos se tornam líder dos Varden, o grupo rebelde que quer derrotar o vilão da série, Galbatorix. Nasuada assume essa responsabilidade bem jovem - se eu não me engano ela tinha entre 17 e 19 anos quando foi escolhida para liderar um povo inteiro.
Durante os quatro livros da série ela passa por várias coisas - incluindo um teste de resistência à dor e uma crise que poderia facilmente ter levado os Varden à ruína - e apesar de suas inseguranças e dúvidas, ela se torna uma líder incrível graças à sua inteligência e força. Há alguns escorregões, claro (como Paolini ter feito ela precisar ser salva por motivos completamente sem noção), mas no geral Nasuada é uma das personagens femininas mais bem desenvolvidas que já vi.
"We do not fight in order to have epics written in our praise."
- Nihal (Crônicas do Mundo Emerso, Licia Troisi)
arte por paolo barbieri |
Crônicas do Mundo Emerso foi a primeira série de fantasia que eu li que tinha uma garota como protagonista, e ainda melhor: uma garota que queria ser um cavaleiro de dragão em um mundo onde só homens podiam sê-lo.
Hoje eu percebo que Crônicas do Mundo Emerso não é lá tão original; Nihal é a última de uma raça (semi-elfos) e graças a isso tem um destino a cumprir, por assim dizer, mas para o eu de 12 ou 13 anos, na época já de saco cheio de livros de fantasia povoados por homens e por homens apenas, o primeiro volume, A Garota da Terra do Vento, era simplesmente a melhor coisa na Terra e quem discordasse levava soco. Lembro de ter brincado com meu irmão dizendo que A Garota da Terra do Vento era Eragon para garotas, e eu estava mais ou menos certa.
Nihal é uma protagonista incrível por vários motivos. Ela é do tipo de garota que adora fazer "coisas de garoto" (e é extremamente boa nessas coisas, vale frisar) e sofre discriminação por causa disso. Ela é forte, às vezes agressiva e que vive para vingar seu povo e seu pai, mas não deixa ser uma garota adolescente que se apaixona, se decepciona e se arrepende. E, por isso, é muito humana.
Crônicas do Mundo Emerso tem duas séries spin-off: Guerras do Mundo Emerso e Lendas do Mundo Emerso, ambas protagonizadas por garotas (Dubhe e Adhara, respectivamente). Já li os dois primeiros livros de Guerras e pretendo ler o resto em breve. Sendo bem sincera, aposto que vou encontrar inúmeras falhas em Crônicas e talvez até mesmo em Guerras e Lendas, coisas que não percebi quando li pela primeira vez, mas acho que nada nesse mundo me faria gostar menos desses livros e principalmente de Nihal (tanto que a gente chega a perdoar as armaduras nada a ver das capas, né?)
“I’m not interested in love. Girls are always snivelling and acting shy. I don’t think they’re remotely interesting.”
“I happen to be a girl, in case you hadn’t noticed.” Nihal said dryly.
Bem, é isso. Há mais personagens femininas de que gosto, claro, como Hermione de Harry Potter, Dubhe de Guerras do Mundo Emerso, Annabeth e Thalia de Percy Jackson e os Olimpianos, etc, mas essas são as principais. Vou ver se arranjo coragem para fazer outro post ainda hoje sobre as personagens femininas do livro que estou escrevendo. Ah, e sintam-se livres para dizer quem são suas personagens femininas preferidas nos comentários! Fui.
4 comentários
Das que você citou, a única cujo livro ainda não li foi Nihal. Das demais gosto de todas as que você citou (tive a mesma relação que você com a Sansa; adorei todo o desenvolvimento nela nos últimos livros). Porém, minha favorita é a Luna (gosto do jeito dela de não mudar quem é para agradar aos outros), seguida pela Auri (pelo mesmo motivo, e também porque me identifiquei com ela ao ler "A Música do Silêncio"). Gosto também da Hermione, da Annabeth e da Thalia (minha personagem favorita de Percy Jackson, pena que apareceu tão pouco), e do Ciclo da Herança, além de Nasuada gosto muito também da Angela. E também de muitas outras personagens de muitos outros livros; se fosse listar todas provavelmente passaria o resto da madrugada fazendo isso.
ResponderExcluirAbraços!
Angela também é uma das minhas favoritas de Ciclo da Herança, e sim, tenho várias outras personagens femininas que adoro também. Abraços!
ExcluirEstou terminando A Dança dos Dragões e até agora não tive essa mudança de opinião sobre Sansa Stark. Ainda prefiro a Arya. =/
ResponderExcluirVocê fez tipo um top5 e eu fui procurar minhas personagens para te responder.
Concordo com a Nihal/Sheireen, foi uma das primeiras personagens feminas kick-ass que eu me lembro e que quebrava o paradigma da mocinha indefesa.
Minhas outras contribuições são as seguintes:
Annabeth Chase da série do Percy Jackson; Alexia Tarabotti da série O Protetorado das Sombrinhas; Rose Hathaway de Vampire Academy (a do livro, não a do filme :P); Harper Connelly da série homônima; Lisbeth Salander de Os Homens que não amavam as mulheres; Lyra Bevilaqua da série As Fronteiras do Universo; Nynaeve Al'Meara da série The Wheels of Time; Romilly MacAran de A Dama do Falcão; Suzannah da série A Mediadora; e Isabel de A Marca de uma lágrima.
Não sei qual seria minha relação com essas personagens se relesse alguns desses livros hoje, mas a memória é que elas são muito importantes pra mim. ^.^
Eu gostava bastante da Arya, mas ela começou a me irritar no livro 3 :/
ExcluirDessa só não conheço Alexia Tarabotti, Harper Connelly e Romily MacAran, e adoro a Lyra Bevilaqua <33 Devia ter me lembrado dela pro top 5 lol