A Lenda de Ruff Ghanor: O Garoto-Cabra | Untitled | Untitled
Leonel Caldela
NerdBooks
★★
Leonel Caldela
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★★
Nos confins de uma terra governada pelo dragão Zamir, ergue-se um mosteiro. Um garoto selvagem, dotado de poderes misteriosos, é encontrado pelos monges. Seu nome é Ruff Ghanor. Treinado desde cedo pelo rigoroso prior, Ruff se encaminha para derrotar o tirano. Ruff enfrenta as forças de Zamir e precisa liderar seu povo no combate. Contudo, antes de vencer o dragão, ele descobrirá segredos sobre si mesmo e seu mundo.
Esse livro foi uma decepção imensa. Considero (considerava?) Caldela um dos melhores escritores de fantasia aqui no Brasil em grande parte graças à qualidade da escrita e das ideias que encontrei em O Código Élfico, livro que li há mais ou menos dois anos atrás. Em O Garoto-Cabra, porém, não encontrei nada disso; a escrita passa longe de ser boa e a história é incrivelmente cliché e genérica.
Ok, eu sei, não havia muito a se fazer acerca da história, que (pelo que eu li por aí, já que não sou familiar com o NerdCast) veio de um sistema (cenário? Sim, sou noob em RPG de mesa, sorry) de RPG genérico/sem muita originalidade. Mas bem, histórias clichés também podem ser divertidas se forem bem construídas, tiverem uma escrita boa e personagens marcantes, e O Garoto-Cabra não tem nada disso. Lembro de ter achado os personagens de O Código Élfico bem mornos, mas pelo menos eles escapavam das tropes mais óbvias do gênero; os de O Garoto-Cabra, por outro lado, são tão unidimensionais que mais parecerem clichés disfarçados de personagens e nenhum chega a ser desenvolvido de verdade.
Ruff Ghanor, o protagonista, é sem dúvida o pior de todos. Ele é especial porque é especial. É poderoso porque é poderoso. Não tem defeito algum além de uma pseudo-arrogância que só faz uma aparição e nunca mais dá as caras. A única garota a ter alguma importância para a história é obviamente seu par romântico e seu melhor amigo serve basicamente para mantê-lo "humano" durante a história, tendo pouca personalidade ou utilidade para além disso. O prior é a encarnação da já desgastada trope do mestre severo e implacável, e Thondin, o anão imortal, seria até interessante se não fosse tão superficial quanto uma poça de lama. Nenhum personagem dessa história me convenceu e todos me irritaram.
O romance então... Uma tragédia. Quando foi que Ruff e Áxia se apaixonaram, pelo amor de todos os deuses? No primeiro momento em que a narrativa dá a entender que Ruff pode estar talvez começando a gostar dela eles já estão se beijando e pronto, o amor-verdadeiro-e-enlouquecedor brota daí para contaminar o resto do livro sem ter desenvolvimento nenhum e sem o leitor chegar a ver qualquer tipo de interação entre os dois que nos convença de que há alguma lógica por traz de todos os "meu amor" que eles falam. Eu sou chata pra cacete com romance, principalmente em livro de fantasia, e não engulo essa tendência que as obras do gênero apresentam de que se tiver um cara e uma garota no mesmo lugar ao mesmo tempo e eles trocarem um olhar, puff, é amor eterno e indestrutível e os pombinhos ficarão apaixonados para todo o sempre. Esse casal só dá pra engolir porque é algo que você espera que vai acontecer, de tão cliché que a coisa é.
Ou seja, se é pra ter romance (ou qualquer tipo de relacionamento, sério) em um livro, que haja algum desenvolvimento e que ele não aconteça de qualquer jeito apenas porque todo mundo já vai estar esperando por isso. Essa é uma das falhas que mais vejo em livros de fantasia por aí: o se apoiar em tropes e clichés para não desenvolver a história de verdade. Nenhum dos relacionamentos de O Garoto-Cabra me pareceu verossímil.
E a Áxia... Nossa, ela poderia ter sido uma personagem incrível, mas acabou meio que jogada de qualquer jeito na história. Se bem desenvolvida ela teria sido minha favorita de longe (mesmo eu não concordando muito com algumas decisões dela), já que é a única que apresenta algum tipo de rastro de personalidade. Mas né, tarde demais.
A escrita não ajudou muito na construção dos personagens e dos relacionamentos entre eles. É cheia de tell onde deveria haver show e os diálogos são sofríveis (quando Ruff chamou Korin - melhor amigo que mencionei ali em cima - de mentecapto eu cheguei a contemplar a ideia de jogar o livro pela janela de tão irritada que fiquei). As descrições são bem rasas e graças a isso o livro não tem um tom definido e o mundo acaba parecendo ainda mais genérico.
Ritmo também foi um problema. Como a história acompanha Ruff desde que ele tinha uns seis ou sete anos, há vários "pulos" para mostrá-lo crescendo e com isso cria-se a impressão de que o livro não está se dirigindo ao clímax. Enquanto lia, senti o tempo todo que a história era uma linha reta, mais um amontoado de fatos do que qualquer outra coisa. Ou seja, não houve tensão e os conflitos não despertavam emoção alguma.
Eu já disse que o Ruff era poderoso, né? Pois tenho que repetir. Ele é um dos maiores Gary Stus que já vi, tão forçado que consegue se tornar o maior [spoiler] do mundo em dois anos, sendo que várias e várias pessoas tentaram fazer isso por centenas de anos e todas falharam. Mas ele consegue porque força de vontade, sabe? Pois é. Tá certo.
A única coisa que salvou esse livro pra mim foi o plot twist no final, que sim, é muito, muito bom e é praticamente a causa de O Garoto-Cabra ter ganhado mais de uma estrela. Pena que a história não compensa. Estava planejando ler os outros livros do Caldela em breve, mas confesso que agora perdi a coragem. Talvez eu tente reler O Código Élfico pra ver se houve uma queda na qualidade mesmo ou se fui eu quem ficou mais chata. Enfim, 2.0 estrelas.
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