The Queen of the Tearling Trilogy: The Queen of the Tearling | The Invasion of the Tearling | Untitled
Erika Johansen
Harper
★★★★
Em seu aniversário de dezenove anos, a princesa Kelsea Raleigh Glynn, criada em exílio, parte em uma perigosa jornada de volta para o castelo onde nasceu para ascender ao trono que é seu por direito. Simples e séria, uma garota que adora livros e adora aprender, Kelsea não é muito semelhante a sua mãe, a vaidosa e frívola Rainha Elyssa. Mas apesar de não ter experiência e ter crescido protegida de tudo, Kelsea não é indefesa: do seu pescoço pende a safira de Tearling, uma joia de imenso poder mágico; e a acompanhando está a Guarda da Rainha, uma companhia de cavaleiros comandada pelo enigmático Lazarus. Kelsea precisará deles para sobreviver aos inimigos que usarão qualquer arma - de assassinos de capa vermelha à mais escura magia de sangue - para impedi-la de usar sua coroa.
Apesar de seu sangue real, Kelsea se sente bem mais como uma garota insegura, uma garota convocada para liderar um povo e um reino sobre os quais ela não sabe quase nada. Mas o que ela descobre na capital mudará tudo, confrontando-a com horrores que ela nunca imaginou. E um único ato de desafio irá jogar o reino de Kelsea em um tumulto, despertando a vingança de uma governante tirana do reino vizinho de Mortmesne: a Rainha Vermelha, uma feiticeira que comanda a magia mais negra. Agora Kelsea irá descobrir quem entre servos, aristocatas e sua própria guarda é digno de sua confiança.
Mas a missão de salvar seu reino e encontrar seu destino apenas começou - uma jornada maravilhosa de descobrimento e desafios que a tornará uma lenda... se ela conseguir sobreviver.
Esse livro foi uma surpresa bastante agradável já que eu não estava esperando muito dele não.
Bem, minto. À princípio, meses e meses atrás, eu ouvi falar de The Queen of the Tearling através de um post feito pela autora, Erika Johansen. O post falava sobre algo que de vez em quando eu menciono em minhas resenhas: a falta de garotas (ou pessoas no geral) feias/que não sejam lindas de morrer em livros YA. Claro, nós temos as garotas que pensam que são feias, mas que na verdade não são e só descobrem isso quando o garoto-deus-grego-encarnado diz que elas são lindas. Essas nós temos aos montes, mas garotas feias mesmo mesmo? Nope.
No post Johansen fala sobre como a protagonista de The Queen of the Tearling, Kelsea, é feia/não exatamente bonita e isso me deixou bem curiosa sobre o livro. Depois de meses enrolando eu finalmente fui olhar algumas resenhas para ter uma ideia do que iria enfrentar e me surpreendi ao ver quantas pessoas - com quem geralmente concordo - odiaram o livro do início ao fim. Minha expectativa foi lá pra baixo, mas decidi ler mesmo assim.
A primeira coisa que me agradou em The Queen of the Tearling foi a escrita. É em terceira pessoa (amém) e bem descritiva, o que eu adoro, e talvez graças a ela os personagens também sejam bem construídos e caracterizados. Não houve praticamente personagem algum que tenha me parecido oco ou mal feito, e na parte mais técnica da coisa - escrita, ritmo, personagens, etc - Johansen faz um ótimo trabalho. Já o conteúdo tem algumas falhas, apesar de ser sim interessante.
The Queen of the Tearling, ao contrário do que se pode assumir à primeira vista, não se passa em um mundo fictício. Em vários momentos da história elementos que remetem ao nosso mundo são mencionados - Londres, América, O Senhor dos Anéis e alguns filósofos principalmente - e assim dá-se a entender que os acontecimentos do livro se passam no futuro, mas um futuro em que estamos novamente da era medieval - e o que nos levou a tal coisa nunca é explicado de verdade. Consegui entender apenas que algo aconteceu - uma guerra, provavelmente, que deixou os continentes ocupados antigamente inabitáveis - e o que restou da humanidade teve que embarcar em navios e atravessar o mar. Mas bem, atravessar o mar para onde exatamente? Não há mais continentes para se descobrir, né?
Mas enfim, o navio com os médicos e com boa parte da tecnologia avançada desse mundo antigo afundou e puf, idade média de novo. Agora porque diabos colocariam tanta coisa importante em um navio só eu não faço ideia.
O que me deixou incomodada em The Queen of the Tearling não foi a falta de respostas sobre o que aconteceu no passado, porém. Foram as inconsistências e o fato de que a falta de beleza de Kelsea (e de outras pessoas) acabou ganhando mais importância do que eu considero aceitável.
Primeiro, as inconsistências. A maior de todas é sobre os guardas que fazem a guarda da rainha (aka a guarda de Kelsea):
"Behind the redhead was a blond man, so extraordinarily good-looking that Kelsea was forced to sneak several looks at him…"
^ Kelsea achando o guarda bonito, certo? Certo. Agora umas três páginas depois:
"…she wasn’t going to do any sort of serious thigh-stretching in front of these men. They were old, certainly, too old for Kelsea to find them attractive."
Guarda algum é bonito mais, hm? Mas depois:
"He was handsome, with dark hair and an open, good-natured face. But then again, they were all handsome…"
^ Sobre os guardas de novo??? Tipo ??? Se decida ?????
Mas minha cisma com os guardas não termina aqui. Sabe, esses guardas - considerados os melhores do reino, já que né, estão guardando a rainha e coisa e tal - sabem que Kelsea está em perigo. Ela tem que chegar na capital e ser coroada rainha o mais rápido possível, já que seu tio, o regente, meio que quer matá-la para continuar no trono. Eles sabem que há assassinos - os Caden - atrás deles há dias. E o que eles fazem?
Montam acampamento e começam a beber. E ficam bêbados mesmo. E acordam no dia seguinte com uma ressaca de matar só pra perceber que hey, a rainha está em perigo e eles têm que se mandar! Ha!
Sério. Esse foi um dos poucos momentos em que eu considerei parar de ler porque sinceramente... Isso só pode ter sido falta de bom senso da autora.
Segundo, o quesito da (falta de) beleza. Kelsea não é bonita, mas a mãe dela, a antiga rainha, era linda de morrer. E era uma péssima rainha, por falar nisso. E não são poucas as vezes que a incompetência dela em manter o reino bem é ligada justamente ao fato de ela ser bonita e vaidosa. Foi uma jogada para fazer um contraste entre a velha rainha - bonita, superficial, cabeça-oca - e a nova - feia, inteligente, sensata - que me deixou profundamente irritada.
Tropes relacionadas à beleza não são algo novo na fantasia. Quantas vezes não vimos o feio - o orc, o urgal, os trollocs - representando o mau e o bonito - elfos, humanos nobres, etc - representando o bem? Essa ideia de que feio = mau e bonito = bom é tão velha quanto o próprio gênero. Mas trocar os extremos, colocar o bonito para representar o mau ou o superficial e o feio para representar o inteligente, não é, na minha opinião, uma boa jogada. É algo simplista e preguiçoso.
Ainda mais quando se trata de mulheres. Afinal, vaidade é um traço muito mais associado às mulheres do que aos homens e é só dar uma olhada nos livros de hoje em dia para ver o quanto a mulher vaidosa é desprezada em favor da que não liga para a aparência. Como já disse um bilhão de vezes, traços femininos são demonizados por nossa cultura, então colocar uma mulher que não possui esses traços como melhor do que uma que os possui é o passo mais rápido para me fazer odiar o livro/filme/whatever. Não funciona comigo, sério.
Isso não quer dizer, claro, que mulheres (ou pessoas de qualquer gênero) vaidosas não possam ser más ou burras ou o que for. O problema começa quando o fato de elas serem vaidosas é apresentado como o motivo de sua maldade/burrice/o que for. E foi exatamente isso que aconteceu em The Queen of the Tearling. A falta de beleza de Kelsa, apesar de lhe causar sim constrangimento, foi apontada diversas vezes pela narrativa como algo que a colocava acima de sua mãe, a antiga rainha linda, mas meio burra. Porque, claro, com essa falta de beleza vinha a inteligência, a determinação - coisas que aparentemente pessoas bonitas não podem ter tão facilmente.
Apesar de meio que desprezar a vaidade de sua mãe, Kelsea também gosta de julgar bastante as pessoas por sua aparência. I mean:
What does [that lady] see when she looks in the mirror? Kelsea wondered. How could a woman who looked so old still place so much importance on being attractive? Kelsea saw now that there was something far worse than being ugly: being ugly and thinking you were beautiful.
Por que né, você só pode se sentir bem consigo mesma, se arrumar e ser confiante se você for nova e bonita. Mulheres feias ou velhas (ou, deus me ajude, feias e velhas) têm que se esconder mesmo, têm que ser inseguras mesmo. E, claro, você só pode se importar com sua aparência enquanto é para as outras pessoas - enquanto você é jovem. A partir do momento em que essas outras pessoas deixam de considerar você bonita, puf, já era. Hora de se recolher e dar espaço para a nova leva de mulheres jovens e bonitas, já que mulheres obviamente só existem para agradar outras pessoas com sua beleza.
Ew.
Mas enfim, apesar dos pesares, eu gostei da Kelsea. Ela é determinada, ela é inteligente, ela comete erros e paga por isso. Ela é uma boa protagonista. A única coisa que me impediu de cair de amores por ela foi justamente essa cisma que ela - e a própria narrativa - tem com beleza (ou a falta de beleza). O pseudo par romântico também cai nessa "armadilha". Bem, nem sei se posso chamá-lo assim porque né... ele mal aparece e decididamente não lembra muito o que podemos chamar de par romântico. Mas sim, a Kelsea fica toda [heart eyes] pra cima dele por motivo nenhum além de sua aparência. Sighs
O resto do livro é muito bom. A trama é interessante sim e os relacionamentos da história, em sua maioria, são cativantes também. A dinâmica de Kelsea com seus guardas, por exemplo, me agradou bastante apesar do início meio turbulento. E também há as mulheres, que também recebem atenção e são importantes para o plot (amém).
Algo que não tem muito a ver com o livro, mas que me chamou atenção foi o fato de The Queen of the Tearling ter sido promovido e divulgado como um livro YA, mas não, esse decididamente não é um livro YA. É uma fantasia adulta como qualquer outra que, por motivos que suspeito ter a ver com a autora ser uma mulher, a protagonista ser uma garota feia e boa parte dos personagens secundários também serem do gênero feminino, acabou no canto dos YAs, que é famoso por ser dominado por mulheres. O que é uma pena, para falar a verdade. Eu bem sei que a fantasia adulta carece de tramas envolvendo mulheres, mas provavelmente pensaram que os dudebros não achariam algo assim interessante.
Enfim, 4.0 estrelas para The Queen of the Tearling.
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