4 estrelas fantasia

Resenha: Snow Like Ashes, Sara Raasch

13:34neo

The Snow Like Ashes Trilogy: Snow Like Ashes | Ice Like Fire | Untitled
Sara Raasch
Balzer + Bray
★★★★
Dezesseis anos trás o reino de Winter foi conquistado e seus moradores escravizados, deixando-os sem magia e sem um monarca. Agora, sua única esperança de liberdade está em oito sobreviventes que conseguiram escapar e que desde então estão esperando por uma oportunidade para roubar de volta a magia de Winter e reconstruir o reino.
Tornada órfã durante a queda de Winter, Meira viveu toda sua vida como uma refugiada, criada pelo general de Winter, Sir. Treinando para ser uma guerreira - e desesperadamente apaixonada por seu melhor amigo e futuro rei, Mather - ela faria de tudo para ajudar seu reino ascender ao poder novamente.
Então quando batedores descobrem a localização do antigo medalhão que pode restaurar a magia de Winter, Meira decide ir atrás dele ela measma. Finalmente ela está escalando torres, lutando contra soldados inimigos  e servindo seu reino exatamente como ela sempre sonhou que faria. Mas a missão não acontece como planejado e Meira logo se encontra jogada em um mundo de magia maligna e tramas perigosas - e finalmente começa a perceber que seu destino não é, nunca foi, seu.


Eu não estava esperando muito de desse livro. Se isso influenciou meu nível de satisfação eu não sei, mas uma coisa é certa: eu gostei bastante de Snow Like Ashes.

O mundo onde o livro se passa é no mínimo interessante. Existem oito reinos, sendo eles quatro Seasons e quatro Rhythms. Os reinos Season possuem apenas uma única estação e são nomeados de acordo com ela, ou seja, são eles Summer, Winter, Spring e Autumn (aka Verão, Inverno, Primavera e Outono). Já os reinos Rhythm são "normais" e possuem as quatro estações. Essa diferença se deve ao fato de que os reinos Season estão meio que em cima da fonte de magia do mundo - fonte essa, aliás, que até alguns séculos atrás podia ser acessada, mas que hoje em dia jaz soterrada em algum lugar dos reinos Season.

Como diz na sinopse, o reino de Winter foi conquistado por Spring e quase todos os seus habitantes foram escravizados. Apenas 25 escaparam, mas depois de anos no exílio apenas 8 sobrevivem, e entre esses sobreviventes está Mather, o herdeiro do trono, e a protagonista, Meira. Para restaurar Winter eles precisam de magia, mas a) só membros das famílias reais dos reinos, Season ou Rhythm, podem usar magia e o fazem através de objetos que receberam o poder da fonte perdida que mencionei ali em cima, b) o objeto da família real de Winter - um medalhão - foi dividido em dois pelo rei de Spring e eles precisam achar ambos os pedaços e c) dos oito reinos, quatro possuem objetos de condução de magia que só podem ser usados por homens da família real e os outros quatro só funcionam com mulheres - e Winter é um deles.

Ou seja, eles não só precisam recuperar as duas partes do medalhão como precisam também manter Mather vivo até que ele tenha uma filha e então esperar até ela crescer para poder usar a magia de Winter. Considerando isso tudo, não é surpresa alguma que os sobreviventes não sejam lá um grupo muito animado.

O motivo de eu não ter esperado muito de Snow Like Ashes é bem simples: o plot twist é estupidamente óbvio (se você não o percebeu até agora se considere sortudo, já que provavelmente aproveitará esse livro bem mais do que eu o fiz) e, seguindo a tradição dos livros YA, há um triângulo amoroso. Meus medos só pioraram quando já nas primeiras páginas temos a Meira suspirando pelo Mather de um jeito tão cliché e tão previsível que eu tive que pausar a leitura para contemplar o lugar da humanidade nesse universo infinito aka suspirei fundo e perguntei por quê? para o teto do meu quarto. Mas, para minha alegria, a história se desenrolou muito bem depois dessa cena.

O que mais me surpreendeu em Snow Like Ashes foi o fato de que eu gostei de verdade da Meira. Tipo, muito. Eu nem lembro se já gostei de uma protagonista YA (tem a Rose de Vampire Academy, mas lá pelo livro 3 eu já a odiava, então né), mas Meira tem praticamente tudo que eu possa querer em uma protagonista: ela tem defeitos de verdade (aka não é temperamental ou desajeitada apenas para que o(s) cara(s) interessado(s) nela a ache(m) engraçadinha/fofinha/adorável) e defeitos esses que impactam o plot (!) e que ela acaba reconhecendo (!!); ela tem objetivos claros que não envolvem garotos (amém, irmãos)*; ela não é nem um pouco passiva. Se tem uma coisa que Meira não faz é ficar parada esperando as coisas acontecerem à sua volta.

"You need me," he hisses. "Winter needs me. You will begin proper training to instruct you in the ways of etiquette and Cordellan history. I advise you to not refuse this training and to obey me in all things."
A tremor runs up my arm. In that moment as he feeds on my fear and revels in power, I see Herod, hissing threats like he was a cat and I was a bird with my wings trapped in his claws.
I yank my arm out of Noam's grip. "Is that what your wife did? She disobeyed you?" I spit, throwing the accusation out like a chakram into a dark room.
As his face collapses, some of my dislike of him unravels. It's the last thing he ever expected to her from me, from anyone, and it shakes him off whatever pedestal he keeps himself on.
I dig my nails into his skin. "You may have me trapped in this." I tug him off me. "But you aren't the first man to underestimate me, so may I advise you to start treating me with a little more respect, King Noam."

Trecho grande, mas ^ momento em que eu me apaixonei pela Meira yo ^

O relação entre Meira e Sir, o líder dos sobreviventes e quem conseguiu salvar Mather (e o resto deles, praticamente), é muito bem desenvolvida também. Apesar de ele meio que não concordar, Meira o vê como um pai (afinal, ele a criou, né), mas ambos são personagens complicados e graças a isso, bem, shit happens. Foi ótimo ver uma protagonista YA com relacionamentos complexos que não são sobre romance. 

Os outros personagens não são tão desenvolvidos quanto Meira e Sir, mas não chegam a ser unidimensionais. Mather e Theron (a outra ponta do triângulo) são okay e eu até conseguir simpatizar com eles, principalmente porque o triângulo amoroso cai por terra durante o livro (amém). Isso não me impediu de rir como uma hiena quando eles brigaram indiretamente pela Meira (in)felizmente (bem indiretamente, mas sério, coloque dois caras brigando - literalmente - por uma guria em /qualquer/ coisa e eu estarei rindo o tempo todo porque nope. Não. É ridículo demais, sorry). Also, nem preciso dizer que gostei mais do pobre coitado que fica forever alone, né? Pois é (Dedo Podre™).

De qualquer modo, espero que a autora dê mais profundidade aos demais personagens no próximo livro. Não houve nenhum oco demais a ponto de me irritar, mas né, personagens bem construídos sempre colocam a história em outro nível.

Anyway, a escrita de Snow Like Ashes é ótima. Não me lembro de momento algum em que a senti contando demais ao invés de mostrando e no geral ela é fácil de se ler. O ritmo é mais lento do que o da maioria dos YAs, mas pra mim isso não é problema, já que adoro livros assim.

Com o triângulo amoroso fora do caminho (amém de novo, só pra constar) e sem o plot twist óbvio, acho que acabarei gostando de Ice Like Fire, o segundo livro, bem mais do que gostei do primeiro. Mas isso apenas se a autora conseguir manter o worldbuilding eficiente e a Meira como uma personagem interessante. 4.0 estrelas para Snow Like Ashes.

*O objetivo da Meira é basicamente ser útil de alguma forma para Winter, reino que ela jamais conheceu. Resolvi falar um pouco disso porque achei que a autora abordou esse aspecto da história - uma sobrevivente de um reino destruído que sequer se lembra do tempo que passou lá - de modo bem hábil. Meira só conhece Winter através do que os outros sobreviventes lhe contaram e boa parte de seu desejo de ser útil para o reino vem de ela querer fazer parte dele de alguma forma, já que ela não se lembra de nada e por isso se sente quase como uma forasteira. Ver ela tentando pertencer e ajudar Winter a todo instante me pareceu bem real e me fez lembrar de Tigana, que trata de algo parecido, mas que não me convenceu justamente por não ser nem um pingo realista.

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