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Dicas de escrita: preparação - planejando o plot de uma série

16:00neo


(Na época em que escrevi esse post estava determinada a escrever minha série principal, A Canção da Fúria, antes de qualquer coisa, mas faz um tempo que a deixei de lado para me dedicar a um projeto mais simples. Ou seja, deixarei A Canção da Fúria para quando eu for uma escritora melhor).

Ou: como planejei o plot de sete livros em uma semana.

Todo mundo sabe que eu venho tentando escrever um livro desde 1.500 a.C, né? Se sabem, provavelmente se lembram do fato de eu nunca ter terminado o diabo do livro, sempre desistindo mais ou menos na metade. Obviamente não sou a única a passar por esse tipo de coisa, e as causas desse “bloqueio” podem ser várias, mas na maior parte das vezes ela é simples: falta de planejamento. 

George Martin uma vez dividiu os escritores entre jardineiros e arquitetos. Os jardineiros vão podando a história na medida que vão escrevendo, sem se preocupar muito com outline ou esquema de capítulos; os arquitetos, por outro lado, organizam praticamente tudo antes de começar a escrever, fazendo as “plantas” da história para ter uma espécie de guia durante sua escrita.

Eu sou uma arquiteta, mas uma arquiteta bem preguiçosa. Onde outros arquitetos planejam até a decoração da casa, eu apenas levanto as paredes e vou jogando baldes de tinta nelas sem nem me preocupar com a cor do negócio. Antigamente nem mesmo as paredes eu levantava; colocava apenas alguns tijolos aqui, algum concreto ali e saía pintando a coisa toda sem olhar para trás. Nem preciso dizer que foi justamente esse tipo de comportamento que me rendeu sete versões não finalizadas do primeiro volume da minha série, né? 

Jardineiros não passam muito por isso, já que eles vão fazendo a coisa toda enquanto escrevem. Mas meu cérebro não funciona desse jeito, e por isso tive que sentar para pensar no plot do meu primeiro livro depois de anos dando murro em ponta de faca. A primeira vez que fiz algum tipo de planejamento foi em 2012, quatro anos depois de eu ter começado a escrever a história, e nessa ocasião defini também sobre o que seriam os outros três livros da então série de quatro que eu planejava escrever. Mas foi um definir meio “fulano faz tal coisa no livro 2, cicrano faz isso no livro 3 e beltrano faz aquilo lá no livro 4”, ou seja, a coisa era muito vaga. Eu não tinha saco nenhum para planejar o plot de livros que eu não ia escrever tão cedo, então deixei pra lá.

Caso você esteja se perguntando, sim, isso é burrice. A depender do tipo de história que você está pensando em escrever, não planejar pelo menos o mínimo dos próximos volumes é receita para a catástrofe. Imagine só: você escreve o livro 1, consegue publicá-lo, e vai escrever o livro 2 para só então perceber que precisava ter inserido algo no primeiro volume para o segundo fazer sentido. E aí, o que fazer em uma situação dessas? Sentar e chorar, obviamente.

Como já disse umas quinhentas vezes aqui, quero que a oitava versão do meu livro seja a última (well, pelo menos a última do primeiro rascunho), então dessa vez estou me preparando bem melhor. E me preparar melhor inclui planejar os outros livros para que depois eu não tenha que voltar para o primeiro e mudar muita coisa para adequá-lo à história do segundo, terceiro, quarto, etc, já que só pretendo tentar publicar quando já tiver pelo menos metade da série escrita. No meio desse planejamento todo, acabei tendo várias ideias e o número de livros subiu para sete (me deixem sonhar), mas enfim, como eu fiz isso?

Demorou menos de uma semana. Cinco dias, para ser exata. Sabe aquele pseudo-planejamento que eu tinha feito lá em 2012? Bem, eu não me lembrava mais dele. O que eu tinha na hora que sentei para planejar os então quatro livros eram apenas cenas soltas para me orientar. Para vocês terem uma ideia, esse era o nível do desespero:


Como dá pra perceber, eu tinha as ideias (bem… quase tinha), mas eu não fazia ideia de quando elas aconteciam ou como elas aconteciam (essa imagem é só sobre as mortes, mas essa situação era meio que com tudo mesmo). E quando eu fazia era só uma ideia de uma cena ou duas para um livro inteiro, o que obviamente é o cúmulo da falta de planejamento. Isso me deixou frustrada. Muito frustrada. Tentei seguir algumas dicas que achei aí pela internet, mas nada ajudava. Mais frustrada ainda, decidi então resolver meu maior problema no momento: o que aconteceria em qual livro?

Peguei uma folha (não presto para fazer nada no laptop porque Tumblr e Twitter existem) e de um lado coloquei todas as ideias para acontecimentos/cenas que eu tinha para a história de forma enumerada, mas não em ordem (afinal, eu não sabia o que vinha primeiro também). Do outro, dividi em seções para o livro 1, 2, 3 e 4. Mais ou menos assim:


E aí, com tudo que eu tinha para a história jogado em uma única folha de papel, eu consegui raciocinar melhor. Fui colocando o que eu achava que ia acontecer em cada livro na seção de cada um através apenas do número da ideia/acontecimento (para não ter que perder tempo escrevendo e tal) e depois de algumas horas (passei a tarde inteira fazendo isso) eu finalmente consegui definir quando todas as cenas/acontecimentos que eu tinha na minha mente iriam acontecer. Foi um processo penoso e meio confuso, claro. Mudei uma cena/acontecimento de livro y pra livro x umas mil vezes e tive que criar mais cenas/acontecimentos que levariam à cena/acontecimento de um livro seguinte várias vezes. Mas no final eu tinha os agora sete livros (evoluiu pra sete durante essa etapa mesmo) com as bases que eu usaria para desenvolver o plot de cada um. Depois de oito anos ruminando apenas o plot de um livro, eu tinha planejado sete em apenas umas cinco horas. Nem preciso dizer que eu estava mega animada, né? (Quem me segue no Twitter viu meu desespero/animação de perto).

Mas essas bases para plot não são um plot de verdade, obviamente. Havia mais trabalho a fazer, e foi exatamente isso que eu fiz nos outros quatro dias que usei para planejar tudo. Antes de partir para cada livro e trabalhar neles individualmente, separei outra folha e fiz um resumo bem curtinho de cada um usando as cenas/acontecimentos que eu tinha separado na etapa anterior, tentando escrever tudo na ordem cronológica. Mais ou menos assim:


(Fiz com sete livros e não quatro, mas dá pra entender).

Algumas outras ideias apareceram durante a escrita desse resumo e eu as adicionei, claro. Quando finalmente terminei, eu tinha uma base melhor, por assim dizer; os acontecimentos de cada livro estavam bem mais claros na minha mente, mas eu ainda não tinha o verdadeiro esqueleto da história. As coisas ainda estavam bem vagas. Não tanto quanto antigamente, claro, já que agora eu sabia o que aconteceria em cada volume, mas nope, nenhum plot pronto ainda. Faltava uma coisa essencial: os personagens e suas motivações.

Com o que mostrei aqui hoje consegui o plot da minha série, mas a partir daí foi preciso mergulhar em cada livro para arrancar a estrutura verdadeira deles, mas disso eu vou falar no próximo post aka na matéria sobre como planejar o plot de um livro. 

Resumindo:
  • Faça uma lista dos acontecimentos ou cenas que você tem para sua série.
  • Enumere esses acontecimentos/cenas.
  • Tenha um espaço em seu caderno/Word para colocar os acontecimentos e cenas de cada livro.
  • Use os números de cada cena/acontecimento para distribuí-los pelos livros.
  • Faça um resumo a partir dos acontecimentos/cenas reunidos.

OBS: O método dos cinco ou oito pontos pode ser visto em séries também. Cada série tem seus livros de exposição, ação crescente, clímax, ação decrescente e resolução. O último é que geralmente fica com clímax/ação decrescente e resolução, mas não se engane: uma série é estruturada de modo semelhante a um livro único, com cada volume agravando ainda mais a história do anterior até que o clímax e a resolução sejam alcançados. Seria uma boa ver se sua série se encaixa nessas estruturas também!

Enfim, continuo as matérias sobre plot no próximo post. Espero ter ajudado e qualquer coisa é só deixar um comentário.

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4 comentários

  1. Comecei a escrever uma série em 2007 e o primeiro livro dela teve até então 5 versões, pelo mesmo problema que você: eu começava a escrever os demais volumes e tinha novas ideias sobre os personagens, seu passado, o sistema de magia e o worldbuilding e tinha de fazer alterações nos volumes anteriores já escritos. Nisso, começava a achar que não estava bom o suficiente e, em vez de serem apenas leves revisões em alguns capítulos, acabava com um roteiro inteiramente novo e tinha de escrever tudo de novo. Agora dei uma pausa nessa série e não vou retomá-la enquanto não definir tudo, desde o worldbuilding e o sistema de magia até os mais diversos acontecimentos do passado que culminaram na situação do presente. Só então darei início à sexta versão do livro para finalmente poder passar para os próximos. Para a parte da história, vou ver se uso as suas dicas!
    Abraço!

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    1. Reescrever é mesmo um grande problema. Além de não saber bem o que iria acontecer e não ter desenvolvido os personagens bem, eu sempre achava tudo mal escrito após um tempo. Cheguei a escrever 100 mil palavras uma vez até, e hoje em dia mal consigo olhar para essa versão (que estava apenas na metade, o que já mostra o quão desorganizada a coisa toda era). Agora que dei um tempo estou me concentrando em um projeto mais simples, provavelmente volume único, e em contos. Só volto pra antiga série quando estiver 100% segura de que posso escrevê-la sem problemas.
      Abraço!

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  2. Acho sou aquele tipo que escreve tudo sem um planejamento e volto para revisar para mudar o que precisa para "encaixar" tudo. O engraçado é que o final acaba sendo muito diferente do que você imagina hahaha. Queria conseguir planejar um livro assim, mas não dá. :(

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    1. Geralmente chamam os que não planejam o plot de "pantsers". Eu queria ser um, para ser sincera :/ Planejar dá um trabalho danado KKK Mas é o único jeito que eu tenho de escrever. Se não planejo, não escrevo KK

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