Série O Ciclo das Trevas: O Protegido | A Lança do Derserto | The Daylight War | The Skull Throne | The Core
Peter V. Brett
DarkSide
★★★
Ao cair da noite, eles surgem por todos os lados, famintos por carne humana, demônios de areia, de vento e até de pedra, conhecidos como terraítas. Depois de séculos, a humanidade definhou e se tornou refém da escuridão. Arlen, Leesha e Rojer, jovens sobreviventes, atrevem-se a lutar e encarar as trevas. O jovem Arlen recebe os ensinamentos de um mensageiro e descobre que o medo, mais que os demônios, é o mal a ser combatido. Leesha tem a vida destruída por uma simples mentira e se torna ajudante de uma velha e misteriosa ervanária. E o destino de Rojer muda para sempre quando um menestrel chega à sua vila com uma rabeca. Juntos, eles podem oferecer ao mundo uma última, e fugaz, chance de sobrevivência.
O impressionante universo criado por Peter V. Brett - que, assim como muitos de nós, foi educado com uma rígida dieta de romances fantásticos, HQs e Dungeons & Dragons - cativa e emociona o leitor, nos tornando parceiros e reféns de seu mundo e personagens. Peter constrói uma bela metáfora sobre o medo e como precisamos confrontá-lo todos os dias.
Eu tinha grandes expectativas ao começar a ler O Protegido. E, infelizmente, elas foram respondidas apenas em parte.
Os personagens também são ótimos. Os principais, Arlen, Leesha e Rojer, são todos bem desenvolvidos e com personalidades próprias (Rojer um tanto menos do que os outros dois por aparecer pouco nesse primeiro volume, apesar de desempenhar um papel importante mais para o final). O livro os acompanha desde sua infância até a vida adulta, e eu gostei bastante da história dos três. Nessa parte eu mal conseguia desgrudar a cara das páginas de tão curiosa que estava sobre como a trama se resolveria.
Mas aí a última parte do livro fez minha satisfação tomar um tombo daqueles.
O que é bem estanho, já que pelas resenhas que li a parte final do livro foi a preferida de muitos. Mas para mim ela pareceu meio... desconectada, principalmente em relação ao Arlen. Ele se transformou em uma pessoa super diferente do nada; ou melhor, anos se passam em um piscar de olhos e puf, a personalidade dele foi praticamente substituída por outra. Foi como se uma boa parte do desenvolvimento dele tivesse acontecido nesses anos que passaram num piscar de olhos, off page, sem que o leitor acompanhasse. E bem, isso me deixou um tanto chateada.
Na verdade, fiquei com a impressão de que O Protegido teria sido um livro melhor se fosse contado meio que em in media res, aka, com a parte final sendo a inicial e o passado dos personagens sendo flashbacks. Não sei se alguém por aqui já leu As Guerras do Mundo Emerso (segunda série do Mundo Emerso, da Licia Troisi), mas a autora lá faz algo assim no primeiro volume e o resultado, pelo que me lembro, é ótimo. Aqui em O Protegido o Arlen ficou quase como duas pessoas diferentes graças a esse desenvolvimento perdido.
E infelizmente boa parte da minha simpatia por ele morreu quando ele se tornou o ~badass~ da história. O distanciamento que o autor acabou colocando entre o leitor - aka eu - e o personagem foi um tanto grande demais. Arlen se tornou mais uma caricatura do que um personagem de fato.
Outra coisa que me incomodou foi o estupro que uma personagem feminina sofreu lá no final. Não pelo estupro em si (que nem é mostrado na narrativa), mas sim pela falta de impacto que isso tem na vida dela. Veja bem, ela foi estuprada por três caras e tudo indica que foi algo terrível, mas aí dois ou três dias depois ela já está querendo fazer sexo com outro cara (que ela nem conhece, mas por qual sente uma espécie de instalove que me fez revirar os olhos demais) e depois disso o estupro não é mais mencionado. É como se ele não tivesse acontecido - ou melhor, como se ele só tivesse acontecido para prover um tanto de angst necessário naquela época e fim. Pra quê fazer uma personagem lidar com esse tipo de trauma, que na maior parte das vezes dura a vida inteira, né? Pra quê? Pff.
É por essas e outras que homens escrevendo sobre estupro fazem todos os meus alarmes dispararem. E bem, espero que no próximo livro isso seja tratado como se deve.
E sim, pretendo ler o próximo livro. O fim de O Protegido foi meio meh na minha opinião (acho que eu acabaria dando umas quatro estrelas pro livro se não fosse por ele), mas deixou em aberto algo que se bem explorado dará uma história ótima. Não vai ser minha prioridade, mas se a oportunidade surgir lerei A Lança do Deserto sem pensar duas vezes. Enfim, 3.0 estrelas para O Protegido.
5 comentários
Essa parte do meio acabou ficando bem corrida mesmo, mas talvez seja por que a editora pediu pro Brett cortar umas 100 páginas da versão inicial, o que ele acabou tendo que fazer. Sugiro que leia "Brayan's Gold" e "The Great Bazaar and Other Stories", que possuem a maioria desses trechos cortados aí.
ResponderExcluirhttp://desbravandolivros.blogspot.com.br/
Ah, agora entendo porque ficou tão desconectado. Vou ver se dou uma olhada nessas outras histórias então!
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTambém odiei a parte do estupro e o livro acabou para mim ali, pois o impacto disso não foi tratado como deveria e logo depois ela já está com outro! Sem noção essa parte e completamente desnecessária!
ResponderExcluirA mudança de Arlen também me incomodou e eu achei exatamente o que vc falou, como se fossem dois personagens diferentes. O livro estava ótimo até o final que queimou toda a história e jogou fora toda a construção de personagens dele. Mas o universo construído é realmente incrível.
Eu li esse livro há alguns anos atrás, e eu era relativamente nova na época, por isso nunca pensei muito sobre o estupro da personagem. Para falar a verdade, eu até tinha esquecido dele.
ResponderExcluirInfelizmente, o autor repete essa experiência com outra personagem, de uma forma bem mais cruel, mas na minha opinião ele conseguiu retratar o sofrimento da personagem em parte na personalidade dela.
Por muito tempo, Ciclo das Trevas foi, e continua sendo, minha saga preferida, ainda mais por trabalhar o contexto da natureza humana quando vinculada à uma religião que faz o personagem ter uma aversão pelas outras culturas. Eu associo muito isso com a guerra religiosa entre o cristianismo e o islamismo hoje, e ter um personagem principal alheio às duas por ser ateu dá margem para trabalhar a visão das duas religiões sem que nenhuma seja vista como "errada", apenas como diferentes.
Mas acho que por eu ter lido há tanto tempo os três livros e ter devorado a história e imergido no mundo fantástico dos demônios criados por Peter que eu não parei para pensar quanto às falhas dentro do livro. Fico feliz por ler sua resenha, pois pude agora refletir sobre isso: mesmo meu livro favorito também tem erros que me deixam desconfortável. Eu não gosto da parte dos estupros dentro do livro, por ser algo muito pesado mas trabalhado somente no momento em que aparecem, e não no decorrer da história.
Obrigada pela sua opinião! Ainda assim, eu daria um 5 para o livro por conta desse trabalho entre as religiões e as relações criadas entre os personagens principais. Fico feliz por sair daqui com uma nova visão mais realista e construtiva do livro