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Resenha: The Witcher

15:55neo



Sim, eu estou fazendo resenha de jogo. E não, eu provavelmente não sou a melhor pessoa para falar dos aspectos técnicos de jogos ou algo do tipo, já que eu só jogo mesmo pela história em 99% dos casos (eu diria que em todos os casos, mas né, eu jogo League of Legends, que é um MOBA e que desperdiça o pouco que tem de história deixando que ela mofe nos seus sites/fóruns). Essa resenha, portanto, é bem mais voltada para personagens/história do que para as mecânicas do jogo em si. 

Minha relação com The Witcher é um tanto conturbada. Anos atrás eu li o primeiro livro, O Último Desejo, e lembro de ter gostado, mas me pergunte qual era a história ou quais eram os personagens principais e eu não vou saber te dizer nada. Os dois primeiros jogos também passaram longe do meu radar por anos e foi só quando The Witcher 3 foi lançado que eu comecei a prestar atenção neles e infelizmente não os vi com bons olhos. O motivo? Simples: eu logo descobri que o primeiro jogo em particular foi muito criticado por ser bem sexista e quando um homem negro escreveu um artigo sobre a falta de personagens de cor no terceiro jogo e foi perseguido por meses por causa disso pelos fãs aka pelo GamerGate (o homem em questão é Tauriq Moosa, que escreve uns artigos bem interessantes no geral e que ainda é perseguido hoje em dia, vale frisar), meu interesse pela série meio que morreu. 

Veja bem: eu jogo bastante desde sempre, mas os jogos em questão sempre foram MMORPGs. Problema sendo: MMORPGs são LOTADOS de caras babacas que te tratam que nem lixo se você tiver um nome e/ou personagem feminino, então com o passar do tempo eu fui deixando de jogar/passei a jogar só raramente e só com meu irmão & meus primos (só jogo LoL mesmo porque eles jogam comigo sempre, já que nem mortinha ia me sujeitar aos acéfalos que infestam o jogo). Mas aí no fim de 2014/início de 2015 eu acabei me interessando por Dragon Age e três jogos e uma obsessão crescente depois, eu percebi que ainda adoro jogos, mas só se a) for offline, ou seja, RPG ao invés de MMORPG, pra não ter que lidar com os já mencionados acéfalos e b) a história e os personagens forem bem feitos e eu puder influenciá-los através das minhas escolhas.

Então quando The Witcher 1 e 2 ficaram na promoção por menos de 10 reais no Steam, dei de ombros e comprei, já que se eu não gostasse tinham sido só 10 reais mesmo, né? E eu andava morta de tédio porque meu semestre na faculdade tinha acabado e eu meio que não sabia o que ia fazer pelo resto do ano, já que não queria continuar no mesmo curso. The Witcher me pareceu uma boa solução pra matar tempo enquanto eu tentava decidir o que ia fazer da vida. 


A primeira coisa que eu tenho a dizer sobre o primeiro jogo de The Witcher é que eu não cheguei a terminá-lo. A segunda que eu odeio sua trilha sonora, que é estupidamente irritante e repetitiva. A terceira é que, no geral, é um jogo bonzinho, mas muita coisa nele segue o exemplo da trilha sonora e consegue ser enervante e simplesmente chato.

O plot é bem simples: Geralt, um witcher relativamente famoso, acorda ferido em um campo próximo a Kaer Morhen, a fortaleza onde os witchers - humanos geneticamente modificados para serem mais fortes, rápidos e resistentes e assim conseguirem derrotar os monstros - vivem sem memória alguma dos últimos cinco anos. Ele é encontrado pelos próprios witchers e por Triss Merigold, uma feiticeira. Nós - e Geralt - logos passamos a saber que todo mundo pensava que ele estava morto (e que na verdade muita gente jura de pé junto que viram ele morrer mesmo), mas como está sem suas memórias, Geralt meio que não tem uma solução para esse mistério. 

Enfim, a história começa de verdade com a Kaer Morhen sendo atacada e os segredos dos witchers (a chave para torná-los esses super mutantes) são roubados. O resto do jogo é basicamente Geralt tentando recuperá-los em quests que vão das interessantes às ultra chatas, longas e cheias de enrolação. Meu problema com o jogo começa justamente nessas quests que induzem ao sono, mas o que mais me irritou no quesito jogabilidade é o quão desnecessariamente complicado algumas coisas são.

Para fazer uma poção para recuperar vida, por exemplo, você precisa meditar. Certo, até aí nada demais, mas para meditar você precisa achar uma fogueira ou lareira. Ok, isso dificulta um pouco, mas dá pra fazer, né? Mas não - para acender a fogueira você tem que ter a paradinha de acender fogueira. Problema sendo: essas paradinhas são um SACO para achar e se você não tiver a sacada de começar a literalmente acumulá-las no início do jogo em algum momento você vai acabar empacado e tendo como única alternativa retornar a um save anterior para arranjar a porcaria da parada de acender fogueiras. 

E sim, foi por isso que eu nunca terminei o jogo. Fui até o finalzinho do último capítulo (são seis ou sete, se não me engano, mais o prólogo e o epilogo), mas eu só conseguiria derrotar o monstro lá (pra depois enfrentar o falso boss e depois o boss mesmo - sim, eu fui procurar o final da internet) se tivesse a maldita poção de vida. É claro que eu não tinha a poção e tinha até uma fogueira, mas nope, necas de paradinha de acender fogueira. 

E o último save onde eu talvez pudesse achá-la era muito antes. Eu teria que literalmente refazer o clímax do jogo quase todo e como estava com zero paciência ou saco para fazer isso, desisti de The Witcher e fui jogar Dragon Age de novo. Foram precisos quase seis meses - o semestre na nova faculdade e então a chegada das férias de agora - para que eu decidisse dar uma segunda chance à série com The Witcher 2

Mas infelizmente não foram só esses probleminhas com a jogabilidade que fizeram de The Witcher um jogo bem mais ou menos pra mim (e olha que eu nem falei do modo ridículo de ataque, que você se acostuma, sim, mas que é um pé no saco de qualquer jeito). 

Como eu disse lá em cima, The Witcher foi bastante criticado por ser sexista. Nele você pode, por exemplo, colecionar cards de mulheres com que você tem sexo (e são muitas, vai por mim. Se é jovem e tem uma vagina entre as pernas, há 90% de chance que ela vai oferecer pra ter sexo com o Geralt em algum momento da história) e as personagens femininas no geral são estupidamente sexualizadas, e o são de modo muito gratuito. Isso inclui decotes gigantes e nudez excessiva sempre que possível, claro, além do fato de praticamente toda mulher do jogo ser linda enquanto os homens são tão feios quanto as fuças do cão. 

Ou seja, enquanto eu jogava The Witcher não pude evitar ter a sensação de que aquele jogo não foi feito para alguém como eu. Na verdade, esse primeiro The Witcher meio que só foi feito pra homens héteros mesmo, e o jogo não perde uma oportunidade de te lembrar disso. As mil mulheres com quem você pode ter sexo mesmo: uma delas se oferece logo após você salvá-la enquanto a cidade está meio que em uma guerra civil que você pode ajudar a resolver. Mas não, gente, claro você pode dar uma pausa pra ter sexo com essa mulher aleatória que você salvou! A cidade queimando lá fora? Nah. Quem se importa?

Shani, uma dos interesses românticos do Geralt. Sim, o jogo não tenta mesmo disfarçar que foi feito para guris necessitados de 15 anos.
Os personagens no geral também são bem unidimensionais. Os recorrentes são Shani, Triss (o outro interesse romântico principal do Geralt), Zoltan e Dandelion, e nenhum recebe muito desenvolvimento. Shani é a garota boazinha e uma médica um tanto sem graça; Triss é uma feiticeira cheia de segredos, mas que aparentemente gosta do Geralt de verdade (que mulher NÃO gosta do Geralt nesse jogo, hein?), Zoltan é o amigo anão de Geralt que tem tanta personalidade quanto o estereótipo do anão permite e Dandelion é um bardo mulherengo que vive se metendo em confusão. Nenhum vai muito além disso aqui no primeiro jogo. 

Outra coisa que me irritou bastante nesse jogo foi o romance. Geralt tem duas opções: Triss ou Shani, mas no fim das contas não importa quem você escolhe. No próximo jogo somente a Triss aparece e a Shani some da existência, só voltando no 3 e voltando como personagem sem importância nenhuma na trama. Ou seja, você tem apenas a ilusão de escolha aqui; os criadores do jogo já decidiram pela Triss e vão mandar a Shani pro limbo de qualquer jeito.

Enfim, The Witcher pra mim é um jogo que não chega a ser ruim, mas que está definitivamente longe de ser bom. No geral, ele me lembrou muito League of Legends apesar dos dois jogos não terem nada em comum. A semelhança entre ambos é como os dois são power fantasies masculinas: cheios de mulheres sexualizadas e homens tão feios quanto as fuças do cão (assim você, o garoto comum público alvo, não precisa ter medo de ter sua sexualidade questionada caso você goste deles) ou homens que são praticamente a encarnação da masculinidade (novamente, sua sexualidade não é questionada nunca e tais personagens hiper masculinos são a Bella Swan para garotos - ou seja, super fácil de se colocar no lugar, ainda que de modo incrivelmente idealizado).

(Disseram que os cards das mulheres foram retirados em uma das atualizações do jogo, e como eu literalmente não aceitei dormir com nenhuma fora a Triss, meu romance escolhido, não tive como ver se isso era verdade ou não. Mas aí meu irmão foi jogar e surpresa!, cards vivinhos da silva). 


The Witcher 2 é, para mim, o melhor jogo da série no quesito história e ritmo. As quests são no geral muito mais interessantes, a trilha sonora é melhor (amém) e os personagens também estão um pouco mais desenvolvidos, apesar de ainda serem mais estereótipos do que personagens completos de fato. O plot é bem mais instigante do que do primeiro jogo; Geralt é preso por engano pela morte do rei de Temeria, Foltest, e ele é o único que sabe/viu que quem o assassinou foi outro witcher, um que ele não conhece (ou pelo menos não se lembra) e que, como ele mais tarde descobre, pode fazer parte de um plano bem maior que coloca todos os reinos do norte em perigo.

O grosso do jogo é definido por qual lado você escolhe apoiar: Vernon Roche, o chefe da inteligência de Temeria, ou os Scoia'tael, o grupo de elfos e anões que lutam contra a opressão dos humanos. Eu escolhi os Scoia'tael e gostei bastante de como o jogo se desenrolou graças a isso.

Como eu disse ali em cima, acho o ritmo desse jogo excelente e a história também é muito interessante. Para falar a verdade, o que me conquistou mesmo em The Witcher 2 foi o modo como as memórias de Geralt foram aos poucos sendo reveladas ao jogador (e ao próprio Geralt). Eu adorei a ideia da Wild Hunt e o mistério por trás dela (de que mundo ela vem exatamente? Por que ela vai atrás de escravos no mundo de Geralt? Enfim, qual seu propósito no fim das contas?) e o final do jogo me deixou muito animada para o terceiro, já que ele basicamente termina com o continente inteiro prestes a entrar em guerra e com indícios de que a Wild Hunt está vindo mais uma vez, e que agora as coisas estão ficando definitivamente sérias para ela. 

As mulheres da história continuam lindas de morrer sempre (e jovens) e os homens continuam feios e/ou hiper masculinizados, mas no geral as coisas são bem melhores do que eram em The Witcher. Não há mais nudez gratuita a todo instante, por exemplo, e se eu não me engano o número de personagens femininas se atirando aos pés do Geralt diminuiu consideravelmente também. O jogo está bem menos obviamente-feito-para-homens-héteros no fim das contas.

Mas o fanservice ainda é muito forçado. Na verdade, é um tanto ridículo. E quando eu digo ridículo, quero dizer ridículo mesmo

Vai dizer que não bate nem um pouquinho de secondhand embarrassment quando você vê essa imagem?
Verdade seja dita, esses fanservices existem basicamente nas memórias de Geralt sobre Yennefer, a mulher que ele amava antes de perder as memórias. Ela fica com os peitos de fora em quase todas as memórias dele sem motivo algum e isso inclui quando ela é sequestrada e olha pra tela com os olhos cheios de lágrima. É um fanservice tão óbvio que sinceramente, se eu fosse um homem cis hétero estaria ofendido. O jogo não tenta disfarçar nunca e o resultado acaba sendo um tanto cômico.

Mas como é tecnicamente bem pouco, é um fanservice pros guris que dá pra ignorar e que não incomoda muito não. The Witcher 2 continua sendo mil vezes melhor do que seu antecessor em todos os sentidos.

E sim, as paradinhas de acender fogueira foram abolidas. Aqui em The Witcher 2 você pode meditar onde quiser, o que pra mim mostra que os desenvolvedores do jogo perceberam rapidinho o quão ridículo o processo era em The Witcher.


The Witcher 3 é, ao mesmo tempo, um jogo melhor e pior do que The Witcher 2. Em questão de jogabilidade, ele é bem superior e também bem maior; dizem que tem cerca de 100 horas de jogo, mas eu fiquei apenas com umas 70 por não ter feito muitas side quests no meu primeiro (e até agora único) walkthrough. 

Ao contrário de muitos jogos longos, The Witcher 3 não tem muita encheção de linguiça, ou seja, não tem aquelas centenas de side quests chatas pra cacete que só estão ali para acumular hora no tempo total de jogo. Todas são bastante divertidas e no geral o jogo nunca fica chato ou repetitivo apesar uma ou outra quest ser sim parecida (afinal, Geralt é um witcher e só há um limitado número de vezes que um contrato para matar um monstro pode ser feito de um jeito novo). São essas side quests, aliás, que realmente fazem o jogo se destacar justamente por se manterem interessante o tempo todo.

Eu não posso evitar comparar The Witcher 3 com Dragon Age: Inquisition. Pra mim DA:I no geral é melhor; eu gosto mais do mundo, dos personagens e do plot de lá, mas um dos defeitos do jogo pra mim foi justamente algumas das (muitas) side quests, que conseguem ser bem chatinhas. Porém, enquanto os muitos mapas de DA:I são realmente diferentes e extremamente belos, o mundo aberto (e gigante) de The Witcher 3 parece ser sempre mais do mesmo, não importa onde você esteja. Algumas coisas mudam, claro, mas no geral o ambiente não muda praticamente nada nunca. Só no final mesmo que isso acontece, na verdade. 

The Arbor Wilds de DA:I é um dos cenários mais lindos já feitos em um jogo e se você discorda você está errado, sinto muito
O vilão de The Witcher 3 também foi uma decepção. Eu esperava muito da Wild Hunt e de seu líder, Eredin, mas no jogo tanto a Wild Hunt quanto o próprio Eredin se mostraram extremamente, hm, não interessantes. Como vilão, Eredin não tem carisma nenhum (o mesmo pode ser dito dos vilões do primeiro jogo, falando nisso, mas o do segundo era muito bom). Eredin quase nunca aparece e quando aparece, quase nunca fala, e quando fala não consegue superar o estereótipo de vilão malvado porque poder!!! e blá blá blá. Os mistérios sobre a Wild Hunt são revelados de uma maneira um tanto chata e em momento algum do jogo dá pra sentir que os personagens estão mesmo ameaçados por ela. Claro, o jogador sabe que a Wild Hunt é uma ameaça, mas sentir isso na pele, por assim dizer? Nope. Não há senso algum de perigo no jogo inteiro.

Ou seja, o que me incomodou mesmo é que em The Witcher 2 a Wild Hunt e o Eredin são pintados como incrivelmente fodas e o que recebemos em The Witcher 3 é, no máximo, legalzinho, infelizmente.

O ritmo do jogo sofre um pouco também. Passamos 3/4 dele procurando por Ciri, a filha "adotiva" de Geralt, e, como eu já disse algumas vezes, o jogo nunca fica chato, mas Geralt dá tantas voltas enquanto procura por ela que sinceramente a sensação era a de que não estávamos saindo do lugar. As coisas se aceleram um tanto quando finalmente a achamos, mas 3/4 de jogo em ritmo lento não conseguem se redimir em 1/4 com um ritmo mais instigante. 

E a Ciri... Bem, eu a adorei e adorei o relacionamento de Geralt com ela. Para falar a verdade, foi aqui em The Witcher 3 que eu me vi me importando com o Geralt como personagem pela primeira vez, e foi também a primeira vez que os personagens secundários ganharam personalidades verdadeiras. Minha única reclamação sobre a Ciri é que jogamos muito pouco como ela e que por estar sumida em 75% do jogo, não a vemos o bastante.

Triss se tornou minha personagem preferida da série em The Witcher 3 tbh
Gostei bastante da Triss e da Yennefer aqui também (Zoltan e Dandelion aparecem de novo, claro, mas pra mim continuam um tanto sem graça apesar de eu gostar dos dois sim). Durante toda a trilogia eu senti que os criadores do jogo meio que não sabiam o que fazer com a personalidade da Triss; ela age de modo bem diferente em The Witcher e The Witcher 2, por exemplo, mas aqui em The Witcher 3 parece que finalmente se decidiram e eu acabei adorando ela. 

Yennefer não me convenceu muito de início, mas pra mim ela é um dos personagens que mais sofreram com a falta de habilidade de contar a história da trilogia. Veja bem, Yennefer não aparece no primeiro e no segundo jogo como Triss, o que meio que dá a vantagem pra ela já que os jogadores podem acabar se afeiçoando a ela e não à Yennefer, e quando ela finalmente aparece é só bem no início do jogo e depois lá pro fim (e o fato de no início ela não ser exatamente uma pessoa muito agradável contribui bastante para balança pender pra Triss, né).

De qualquer forma, eu escolhi a Triss e depois quase morri de pena da Yennefer quando tive que dar o fora nela. Acho que foi a primeira vez em que eu realmente fiquei indecisa entre duas pontas de um triângulo amoroso.

Outro problema que envolve um tanto da já citada falta de habilidade de contar a história dos criadores é a motivação de Geralt durante todo o jogo. Ciri é, como eu já disse, quase uma filha adotiva de Geralt e Yennefer, e é bem óbvio que ele se importa muito com ela (a cena em que os dois se reencontram é literalmente uma das melhores do jogo), mas o jogador não tem contexto nenhum pra isso. Tirando a espécie de prólogo de The Witcher 3, onde jogamos com Geralt e treinamos uma Ciri mais jovem em Kaer Morhen, não há muito que nos convença da relação de pai e filha dos dois. Ou seja, a coisa fica muito mais contada do que mostrada, e isso afeta bastante a história; o contexto necessário para realmente apreciar The Witcher 3 está nos livros e quem não os leu com certeza vai sentir que falta alguma coisa nesse sentido no jogo.

O final também foi um tanto decepcionante, mas acho que isso deva mais ao fato de que o vilão em si é bem decepcionante, como já falei. Foi estupidamente fácil derrotar o Eredin, mas pra ser sincera meu jogo bugou nessa hora; Eredin ficou preso numa animação em loop infinito e eu pude tirar sua vida todinha, mas aí ela chegou em 0 e ele não morreu. Reiniciei a luta umas quatro vezes, atualizei o jogo, mas necas, o bug continuava. No fim das contas, descobri que se você bater rápido o bastante nele um script do jogo não ativa e você fica preso ali pelo resto da existência. Ou seja, você tem que ir devagar no final boss pra poder vencê-lo, o que chega a ser irônico.

(A luta conta as ladies of the woods também foi muito fácil e até agora eu ainda não entendi porque seres que são quase como deuses lutaram no corpo a corpo contra a Ciri. Enfim).

Uma última reclamação: o quão pouco Geralt se envolve na guerra que está acontecendo. No fim de The Witcher 2 fiquei com a impressão de que a guerra seria, sabe, Muito Importante para a coisa toda, mas se você ignorar uma side quest você praticamente não se envolve nela, o que também foi um tanto decepcionante.

The Witcher 3 não tem muito dos fanservices forçados de The Witcher 2 e muito menos o sexismo óbvio de The Witcher. Nesse sentido, a série melhorou bastante. É claro que todas as mulheres ainda são lindas e coisa e tal, e a maior parte ainda tem os decotes do milênio, mas comparado com o que veio antes a representação feminina é quase o paraíso aqui. 

A pergunta que não quer calar é porque tanta mulher bonita se importa com o Geralt, sejamos sinceros.
Enfim, The Witcher 3 é um jogo maravilhoso. Lendo o que escrevi pode-se até ficar com a impressão de que o jogo só tem defeitos, mas apesar dos pesares acabei gostando dele mais do que gostei de The Witcher 2. No fim das contas nem mesmo os erros quando o assunto foi a história foram capazes de interferir no quão divertido todas as quests são ou no quão viciante o jogo é. É provavelmente um dos melhores jogos que já joguei (só perde mesmo pra DA:I, mas meu amor por DA:I é meio que incondicional).

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Retomando um pouco do que falei lá em cima, a série The Witcher foi criticada por algumas pessoas por não ter uma pessoa de cor sequer. Ou, melhor dizendo, em The Witcher 3 algumas aparecem. Essas:

As únicas pessoas de cor de The Witcher são mulheres animalescas em posições nada sexistas, é claro.
Eu não dou a mínima para a justificação que arranjaram pra isso (é assim nos livros! Os jogos são baseados na Europa/tem a Europa como inspiração! Blá blá blá!), mas pra mim a pior coisa da história nesse sentido é o racismo fantasioso. No universo de The Witcher, as raças não-humanas são desprezadas e relegadas a guetos nas cidades, e em um momento de The Witcher 3 a depender de uma decisão que você toma elfos e anões podem acabar sendo queimados em estacas apenas por não serem humanos. Ou seja, racismo é um dos temas da história, e vem sendo desde o primeiro jogo, mas é o racismo entre elfos, anões e humanos. 

Que são todos brancos. Todos os elfos são brancos, todos os anões são brancos, todos os humanos são brancos. 

Isso é algo muito comum em livros de fantasia; a substituição do racismo real (e das pessoas que sofrem com o racismo real) por um racismo fantasioso onde todo mundo é branco. Eu não posso dizer com certeza porque isso acontece, mas pra mim os autores de livros assim (quase sempre brancos), falando no geral, adoram falar sobre opressão, mas apenas se os protagonistas, os oprimidos, forem como ele; brancos, héteros, cis, e por aí vai. É só dar uma olhada nas histórias que tratam de opressão com base em raça fantasiosa ou poderes que não existem; os oprimidos lá nunca vão ser os oprimidos da vida real, nunca vão ser negros ou gays ou trans. Na minha opinião, isso vem de uma necessidade bizarra que essas pessoas têm em serem vistas como as injustiçadas, como o grupo que luta por justiça, uma necessidade essa que beira o fetiche com uma opressão com a qual não sofrem.

E nem preciso dizer que muito fã de histórias assim super simpatiza com a criatura mágica oprimida ou com o mutante com poderes especiais, mas ignora o negro, o gay e o trans na mesma situação no mundo real com uma facilidade tremenda ou não hesita nem por um segundo antes de choramingar é vitimismo!

No fim das contas, abordar um racismo fantasioso (ou qualquer opressão fantasiosa) serve bem mais para o autor privilegiado afagar seu próprio ego por tratar de um assunto sério em suas obras enquanto ignora o racismo/opressão real. Afinal, é muito mais fácil dizer que os opressores são os humanos ou essa raça que não existe do que, por exemplo, tratar do racismo real onde você, autor branco, está entre os opressores e não entre os oprimidos, não é mesmo?

Esse não é um problema apenas de The Witcher e sim do gênero de fantasia (e sci-fi também, acredito) como um todo. Mas de qualquer forma é uma pena que uma série com uma história tão boa cometa os mesmos erros que tantas obras do gênero.

Enfim, voltando para os jogos em si, não vale a pena jogar The Witcher. O primeiro jogo é mais um protótipo dos 2 e do 3 do que qualquer outra coisa, e quem nunca jogou a série lucra bem mais vendo um resumo rápido dele na internet e partindo logo pro 2 do que gastando horas e horas procurando paradinhas de acender fogueira. Vai por mim. 

Dando notas, o 1 ficaria apenas com 2.5, o 2 ficaria com 4.0 e o 3 com 4.5. No geral, é uma série de jogos incrível que tem sim defeitos, mas que vale muito a pena.

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