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Diário de escrita: sobre a busca da perfeição (mais o mapa do mundo da minha história!)

20:44neo


Como já disse aqui no blog, faz uns oito anos que estou escrevendo meu primeiro livro, O Olho da Serpente. A verdade é que bem antes dos meus 11 anos (quando comecei) eu já pensava na história, mas não arranjava coragem para escrevê-la e sequer fazia ideia de como essa coisa de escrever funcionava. O meu "ter uma história" era assistir filmes e animes, ler livros e jogar vários jogos de MMORPG e ir alterando-os do modo que eu acreditava ser melhor e enfiando minha protagonista, Nienna (que era Nienna e depois Linnea, mas que hoje é Nienna de novo) em tudo. Essa época foi boa porque me serviu de inspiração, mas estar com uma história na cabeça há tanto tempo pode ser algo ruim. Para falar a verdade, a essa altura do campeonato eu sequer me lembro da época em que eu não estava pensando em O Olho da Serpente, e o fato de eu estar escrevendo há tanto tempo faz a pressão para tudo ser perfeito algo esmagador. As resenhas negativas que dou a torto e a direito também estão aí, quase um lembrete de que se eu quiser ter direito para falar sobre um livro devo no mínimo fazer um melhor.

Mas falar é fácil, claro. Fazer é que é difícil. Muito difícil.


Comecei a escrever porque tinha uma história para contar e porque me divertia escrevendo, mas em algum momento dos últimos oito anos a coisa toda acabou deixando de ser tão divertida assim. Certo, eu ainda pensava na história, ainda criava e reformava personagens, ainda imaginava as cenas e repassava os diálogos, e fazia isso o tempo todo, mas a ideia de escrever às vezes fazia eu me sentir extremamente cansada. As reescritas se tornaram mais e mais frequentes, e eu nunca estava satisfeita com nada. Comparar minha história com a de autores famosos se tornou regra, e essa comparação sempre fazia com que minha necessidade de reescrever ou meu cansaço aumentasse. Quase uma auto-tortura, para ser sincera.

Escrever não era mais divertido. Era penoso, e eu não conseguia entender o porquê. Estaria eu enjoada da minha história? Impossível, isso eu sabia. Há mais chances de eu crescer uma segunda cabeça do que há de eu enjoar dessa história. Mas o que era então? Eu não fazia ideia, mas o engraçado é que mesmo sem me divertir mais a ideia de desistir nunca me ocorreu. Nem de brincadeira, nem mesmo em um pensamento rápido em um momento de irritação. Claro, eu dei várias pausas, às vezes de meses e lá entre a primeira e a segunda versão, de anos, mas desistir dessa história nunca foi uma opção e desistir de escrever também não.

A resposta, é claro, apareceu eventualmente. Escrever não era mais divertido porque eu estava preocupada demais com a ideia de perfeição. Lá no início isso não importava muito; eu queria contar uma história e acabou, o resto viria depois. Mas agora? Sendo eu tão chata com outros livros e estando presa na mesma história por quase oito anos? Perfeição era a única coisa que importava na hora que eu abria o Word para escrever. Não era mais contar uma história porque eu tenho algo a dizer ou porque eu acho que ela é boa, mas sim encontrar a perfeição na forma. A descrição perfeita, os personagens perfeitos, os diálogos perfeitos, o ritmo perfeito. Tudo isso passou a importar demais, já que, bem, estou escrevendo há oito anos, não é verdade? Essa história tem a obrigação de ser boa se eu passei tanto tempo a remoendo, certo?

Passei a ver tantas dicas de escrita que se resumiam a divirta-se escrevendo! Se você não se divertir, como seu leitor fará o mesmo? que a coisa parecia perseguição. E eu ficava mais preocupada, claro, porque como diabos se ignora ou se supera essa necessidade de fazer algo perfeito? Como fingir que a vontade de editar, de reescrever, não existe enquanto se está escrevendo? Como simplesmente continuar sem se importar com o estado deplorável das descrições ou com os diálogos desajeitados? Como?

Eu não faço ideia. É só se lembrar do fato de que em oito anos eu nunca concluí o primeiro rascunho de ODS que se começa a ter uma ideia do tamanho de meu problema. Mas dessa vez, na oitava (oitava?) versão, vou tentar fazer algo diferente. Tentar esquecer de que quero publicar essa história um dia (coisa que acho que não vai acontecer por motivos de tamanho do livro), tentar fingir que ninguém além de mim irá lê-la e se concentrar no que eu quero dizer, na história que lá com 11 anos eu achei legal o suficiente para ser escrita. 

Manter esse tipo de pensamento não é fácil, óbvio. Às vezes eu preciso que alguém me lembre disso tudo (oi, Snow!) e ainda preciso me impedir de sair comparando ODS com Deus e o mundo, mas agora eu sei o que devo fazer durante a escrita dessa história: me divertir, e só.

Pretendo começar a escrever de novo em breve, mas estou indo devagar. Essa semana defini o plot do livro 2 e 3, e amanhã vou trabalhar no do 4. Tive várias ideias e tenho quase certeza de que os antigos quatro volumes não serão o suficiente para contar a história, mas como disse, não estou com pressa. Hoje fiz (mais) um mapa, o melhor que já fiz, e que sim, provavelmente não vai ser a versão final, mas que me deixou bem satisfeita. Você pode conferi-lo abaixo:

clique aqui para ver em maior tamanho
Não é algo incrível, mas agora pelo menos tenho uma ideia de onde meus personagens estão na hora de planejar a história, certo?

Em resumo, se você é escritor jogue a ideia de perfeição pela janela. Não entre em parafuso que nem eu. Afinal, lemos e escrevemos porque é, antes de tudo, divertido. Claro que há momentos onde se deve buscar uma melhora no texto, nos personagens e no próprio plot, mas é para isso que os rascunhos 2, 3 e assim por diante existem. Como vários e vários escritores dizem, o papel do rascunho 1 é apenas existir, e você não pode editar uma página que não escreveu.

Como eu disse lá em cima, porém, falar é fácil. Fazer é que é difícil. Muito difícil.

Mas bem, se ser escritor fosse fácil todo mundo seria, não é mesmo?

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6 comentários

  1. Tenho um problema de sempre tentar fazer a minha escrita ficar perfeita, e por uns dias eu realmente acho que ficou, mas passa uma semana e eu releio ai eu já acho que está horrível e perco dias reescrevendo tudo. Isso acontece contigo?
    E também; Qual programa que você usou para fazer esse mapa? Ficou perfeito hahaha. To meio cansado de desenhar mapas nas folhas e elas sumirem '-' desde já, agradeço.

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    1. Acontecia comigo o tempo todo! É bem comum mesmo e todo escritor passa por isso (ou quase todos), então depois de fritar meu cérebro tentando fazer minha escrita ter mais qualidade eu deixei essa neura de lado e hoje foco apenas em colocar as palavras no papel/Word. Depois, lá na rescrita e revisão, é que me preocuparei em deixar as coisas mais bonitas.
      Eu usei o photoshop. É só jogar "how to make a fantasy map" lá no youtube que você encontra vários tutoriais com estilos diferentes ^-^

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  2. kkkkkkk vou ter que aprender a deixar essa neura de lado também. Acredite se quiser; já estou com essa ideia de escrever um livro a quase dois anos. e até agora eu não tenho nem 100 folhas :\
    Ah sim. Vou ver se consigo fazer o meu haha. Muito obrigado por me responder :) Abraço.

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  3. Como fez o mapa? Ficou ótimo!

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    1. Fiz seguindo esse tutorial: https://www.youtube.com/watch?v=NHQzeiLi6C4
      E obrigada!

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