criando personagens dicas de escrita

Dicas de Escrita: criando personagens - o básico

14:39neo


Não é segredo nenhum que personagens são a alma de toda história. Sempre digo isso, mas devo repetir: nem mesmo o melhor plot do mundo vai ser capaz de prender seu leitor se seus personagens forem mal construídos, simples estereótipos sem profundidade. Então ter bons personagens é uma das melhores tácticas para conseguir – e manter – leitores.

Mas como criar personagens satisfatórios? Não há uma resposta certa, infelizmente. O que apresentarei nessa matéria é apenas minha opinião e funcionou comigo, mas há muitos outros métodos que você pode tentar usar e que podem se adequar melhor a você e a seus personagens. Porém, tenho quase certeza que as dicas que listarei aqui servem para a maioria dos escritores, mesmo que não para todos.

Personagens são pessoas, mesmo quando não são humanos. É por isso que nos interessamos por eles; somos praticamente programados para nos importar com os outros e nos conectar com eles, formando famílias, grupos de amigos, comunidades e sociedades. É o que viemos fazendo por milhões de anos, e o que continuaremos fazendo pelos milhões que hão de vir. Portanto, se seu personagem falhar em ser uma pessoa, o leitor não conseguirá se manter interessado por muito tempo, já que não estará emocionalmente envolvido com as lutas, sonhos e medos do seu protagonista (e também de seus secundários).

Então, para resumir, criar um bom personagem é criar uma pessoa. E pessoas são “criadas” através de três coisas: seu passado, seu presente e seu futuro.
  • Passado
Muito do que somos hoje devemos ao nosso passado; o modo com que nos relacionamos, nos comportamos e principalmente nossos valores vieram de eventos que aconteceram durante nossa formação como indivíduo. E com personagens isso funciona do mesmo jeito; sua infância e adolescência definem uma boa parte de quem eles são no momento em que o livro começa, mas é bom lembrar que não definem tudo. Por exemplo, digamos que A e B tiveram uma infância muito difícil, tanto econômica como emocionalmente. A se tornou recluso e negativo, enquanto B acabou sendo extrovertido e otimista apesar de tudo. Pessoas diferentes reagem de modo diferente a situações, e seus personagens o devem fazer também. Decidir que se seu personagem será como A ou B (ou C ou D e assim por diante) é um dos primeiros passos para começar a desenvolver sua personalidade.

Para te ajudar nesse processo, você pode usar o seu próprio passado como teste. Pense na sua personalidade de agora e em seus objetivos, e reflita sobre o quanto disso veio de acontecimentos ou pessoas do seu passado. Você também pode tentar escrever tudo como se você mesmo fosse um personagem, falando da sua relação com seus pais, amigos e familiares, e em como isso te influenciou. Esses “efeitos” são o motivo do passado do seu personagem ser tão importante; são eles que determinam quem ele é e quem ele quer se tornar.

Então escreva tudo que lhe vier à mente sobre o passado do seu personagem. Tente cobrir a maior parte de sua vida, de seus relacionamentos e dos eventos que marcaram seus anos de vida, mas não se desespere se não conseguir descrever tudo. É quase impossível pensar em todos os aspectos da sua própria vida, então com um personagem a coisa não seria tão diferente.
  • Presente
O seu personagem de agora define como sua história irá se desenvolver. Ele é o ponto de partida; uma junção das coisas que aconteceram em seu passado com suas expectativas do futuro, algo como o meio termo entre tudo o que o levou a ser como ele é hoje e o que você quer que ele seja ao fim do seu livro ou série. E, também, é o que vai ser apresentado aos seus leitores, sendo assim o link entre eles e a história que você quer contar.

Não há um modo certo de se fazer um personagem, mas há, com certeza, o modo errado. Como eu disse lá em cima, personagens são pessoas, e não existe ninguém que tenha agradado todo mundo; seu personagem, portanto, não irá satisfazer gregos e troianos, mas se bem construído pode conquistar ou um ou outro. Se mal construído, porém, ele acabará se tornando uma Mary Sue ou um Gary Stu, sendo tão irreal que nenhum leitor será capaz de se identificar ou de torcer por ele.  E se seu personagem do presente der a impressão de ser assim, as chances de continuarem lendo sua história caem significativamente.

Como impedir que isso aconteça então? Em teoria, é algo simples: dê defeitos reais aos seus personagens, faça com que eles errem e tenham que lidar com as consequências disso, não os torne o queridinho de todos se não houver uma razão boa para tal coisa e jamais os coloque acima de outros personagens em questão de habilidades se eles forem iniciantes ou inexperientes. Afinal, pessoas reais são assim, não são? Temos defeitos e temos que arcar com as consequências dos nossos atos, e ser o queridinho de todos sem esforço e mérito é muito difícil. Se tratando de habilidades então, não há nem o que discutir. Suponhamos que você faça karatê; seria você capaz de vencer seu mestre que tem anos e anos de treino e dedicação após apenas alguns meses estudando e treinando?

Não, não seria. E seu personagem também não.
  • Futuro
Sabe aquele plot mal desenvolvido que você tem há milênios e que não escreve por não saber o que diabos vai acontecer de verdade? Existe uma chance de 90% de que seu problema pode ser resolvido com nada mais, nade menos que o futuro do seu personagem. É por isso que considero essa a parte mais importante da matéria.

Veja bem, sua história não pode ir a canto algum se seus personagens não tiverem algo que eles querem para seu futuro. Usemos o primeiro livro de Percy Jackson como exemplo: mesmo sendo levado ao Acampamento Meio-Sangue por acontecimentos que estavam além de seu controle, a história de O Ladrão de Raios só aconteceu porque Percy queria resgatar sua mãe e limpar seu nome. Se ele tivesse decidido aguentar a ira de Zeus quieto no seu canto e tivesse desistido da sua mãe, nenhum dos eventos narrados no livro existiria. Ou seja, todo o plot veio dos objetivos de Percy.

Quando eu comecei a escrever minha história, há mais de sete anos, confesso que não fazia a menor ideia de para onde o livro estava indo. Eu só ia escrevendo e escrevendo enquanto rezava por um milagre que me indicasse o que fazer, e esse milagre, obviamente, não aconteceu. A falta de planejamento fez com que a primeira versão do meu projeto chegasse a apenas cinco capítulos, e só dois anos depois, quando peguei o (suposto, quase inexistente) plot foi que percebi o que havia de errado. Por mais que sim, eu tivesse o início do que hoje é a ideia central da história, minha protagonista não tinha um objetivo. Ela tinha sido literalmente arrastada para a “aventura” pela vontade de outras pessoas. Foi só depois que eu arranjei um motivo para ela querer se enfiar no que estava acontecendo com esses outros personagens que consegui desenvolver o plot. Aliás, o objetivo dela transformou o livro por completo, fazendo com que eu criasse mais personagens e mais subplots.

Ou seja, ignorar os motivos do seu protagonista (e de todos os seus personagens em geral) é o mesmo que assassinar sua própria história. Seus personagens têm que ter objetivos: são eles que moldam o seu plot porque seu plot só existe e só desenvolve se seus personagens agirem. É por isso que você deve usar esses objetivos na hora de planejar sua história. Se você acabou de ter uma ideia, por exemplo, escreva tudo o que puder sobre ela e em seguida passe a trabalhar nos personagens mais necessários e só depois passe para o planejamento de verdade. Nunca se esqueça de que plot e personagens estão intimamente interligados.

Porém, não é apenas de passado, presente e futuro que bons personagens são feitos. Bons personagens são ativos na história; eles tomam decisões e não apenas seguem as ordens do plot. Eles possuem medos – geralmente interligados com os objetivos, como, por exemplo, um personagem que tem como objetivo ser rico provavelmente morre de medo de acabar falhando e se tornar pobre –, hobbies, coisas que o desagradam, manias e um modo de falar próprio.

Toda essa matéria, porém, serve basicamente apenas para te ajudar a construir seu personagem de antes da história começar, moldando também seus objetivos para que esses ajudem a formar o plot. Um bom personagem não se faz nem mesmo com os itens citados no parágrafo anterior; um bom personagem muda ao longo da história, se desenvolvendo junto a ela e a outros personagens. Mas isso já é assunto para outra matéria.

Espero ter ajudado e qualquer coisa é só comentar.

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